Uma gigantesca ilha submersa, com o tamanho da Islândia e localizada a apenas 1,2 mil quilômetros da costa do Rio Grande do Sul, surge como a chave para abrir portas ao Brasil para uma nova era de descobertas científicas e oportunidades econômicas.
A Elevação do Rio Grande, como é conhecida essa estrutura de origem vulcânica, tem despertado o interesse de pesquisadores e governos devido ao seu potencial de expandir a Zona Econômica Exclusiva (ZEE) brasileira no Atlântico Sul.
ilha submersa – A Descoberta que Reescreve a História
A descoberta dessa antiga ilha no Oceano Atlântico, que hoje repousa a cerca de 650 metros abaixo do nível do mar, foi liderada por pesquisadores da Universidade de São Paulo (USP).
O que torna essa revelação ainda mais intrigante é a presença de argila vermelha em seu solo, uma coloração idêntica à encontrada em diversas regiões do Brasil, sugerindo que o local esteve acima do nível da água em tempos remotos.
Essa característica levanta a possibilidade de que a ilha tenha sido habitada ou visitada por povos indígenas em eras passadas, abrindo um leque de novas pesquisas sobre rotas de navegação e comercialização ancestrais.
As primeiras evidências desse passado de ilha tropical surgiram em fevereiro de 2018, durante uma expedição do Instituto Oceanográfico da USP, a bordo do navio Alpha Crucis, com o apoio do navio Discovery, da realeza britânica.
A comprovação definitiva, no entanto, veio com estudos mais recentes, publicados em periódicos como a Scientific Reports e a Social Science Research Network.
A análise detalhada da composição geoquímica, mineral e magnética da argila revelou que o material só poderia ter se formado na superfície, confirmando a teoria de que a Elevação do Rio Grande já foi terra firme, idêntica à terra vermelha típica do interior do estado de São Paulo.
Potencial Econômico e Geopolítico: A “Amazônia Azul” em Expansão
Para além do inestimável valor histórico e científico, a Elevação do Rio Grande representa um divisor de águas em termos de repercussões econômicas e geopolíticas para o Brasil.
A área é notavelmente rica em minérios, como o ferro-manganês, e em metais raros de uso estratégico para a tecnologia moderna, incluindo cobalto, níquel, platina e selênio.
Atualmente, a Elevação do Rio Grande está localizada em águas internacionais, sob a jurisdição da Autoridade Internacional dos Fundos Marinhos.
No entanto, o Brasil vem argumentando que a área possui as mesmas características geológicas do país, representando uma extensão natural da plataforma continental brasileira, parte do que a Marinha chama de “Amazônia Azul”.
Desde as primeiras descobertas em 2018, o Brasil tem buscado a incorporação desse território junto à Organização das Nações Unidas (ONU).
O pedido de anexação está sob a responsabilidade da Comissão de Limites da Plataforma Continental da entidade, e não há previsão de quando o assunto será julgado.
A efetivação dessa anexação não só ampliaria significativamente a Zona Econômica Exclusiva do Brasil, que hoje se estende por uma faixa de até 370 quilômetros a partir da costa, mas também abriria as portas para a exploração de um potencial econômico estratégico, solidificando a posição do país no cenário global de recursos minerais de alta demanda.
Uma Jornada de Dez Anos para Desvendar o Atlântico Sul
Embora os estudos científicos mais recentes, que corroboram a teoria da ilha submersa, datem de 2023 e 2024, os pesquisadores revelam que a análise do material da Elevação do Rio Grande se estendeu por quase uma década.
Essa dedicação e persistência permitiram desvendar os segredos de uma formação geológica que se originou há aproximadamente 80 milhões de anos, a partir de uma intensa atividade vulcânica no Atlântico Sul, que cessou cerca de 40 milhões de anos depois, deixando os rastros de argila vermelha que hoje contam a história de uma ilha perdida.
A Elevação do Rio Grande é, sem dúvida, um marco na exploração do oceano profundo e um testemunho da riqueza e complexidade do nosso planeta.
Sua descoberta não apenas reescreve parte da história geológica e possivelmente humana do Atlântico Sul, mas também oferece ao Brasil uma oportunidade ímpar de fortalecer sua soberania e impulsionar sua economia em um futuro próximo.