Elevação do Rio Grande já foi uma ilha tropical na frente do Brasil

A Elevação do Rio Grande – ERG fica no Atlântico Sul, cerca de 1.200KM dos litoral do Rio Grande do Sul e possui 150.000 km2.

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A Elevação do Rio Grande (ERG), uma formação geológica gigantesca que hoje repousa nas profundezas geladas do Atlântico Sul, já foi uma ilha tropical coberta de vegetação na frente do Brasil, segundo um novo estudo liderado por pesquisadores da USP.

Localizada a 1.200 quilômetros da atual costa sudeste brasileira, a ERG é um conjunto de montanhas e cânions que, se estivessem em terra, formariam uma paisagem impressionante, marcada por fendas profundas e picos com mais de 4 mil metros de altura (o Pico da Neblina, maior montanha do Brasil, comparativamente, não chega a 3 mil metros).

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Hoje, todas essas estruturas estão completamente submersas, assentadas sobre um assoalho marinho de 5 mil metros de profundidade. Um viajante que pudesse retroceder no tempo, porém, veria uma paisagem completamente diferente ao navegar por ali no meio do Eoceno, entre 50 e 40 milhões de anos atrás.

Naquela época, segundo os pesquisadores, as partes mais altas da ERG estavam acima da superfície, formando uma grande ilha vulcânica, de clima tropical e, muito provavelmente, recoberta de florestas e rodeada por recifes.

Com o passar do tempo, essa paisagem insular teria sido naturalmente erodida (pela ação do vento, da chuva, das ondas, etc.) e recoberta por sucessivos derramamentos de lava, dando origem ao que os cientistas enxergam hoje, debaixo d’água, como tapetes de argila vermelha (solo petrificado) espremidos entre camadas de basalto preto (rocha vulcânica).

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As primeiras evidências desse passado tropical surgiram em fevereiro de 2018, numa expedição liderada por pesquisadores do Instituto Oceanográfico (IO) da USP e financiada pela Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp), que utilizou o navio de pesquisa Alpha Crucis para caracterizar depósitos minerais na ERG.

Dragagens de pesquisa realizadas no topo da elevação trouxeram à tona uma amostra de argila vermelha, que os pesquisadores suspeitaram ser uma espécie de solo fossilizado (paleossolo) — algo que só poderia ter se formado em um ambiente terrestre e de clima tropical (ou seja, na superfície) —, além de outras feições geológicas que sugeriam a existência de praias, rios e erosão por chuva no passado.

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A dragagem, porém, não permitia aos pesquisadores saber como aquela argila estava disposta no topo da ERG — a 650 metros de profundidade.

Sabiam apenas que ela estava lá. O mistério só foi solucionado numa segunda expedição, realizada oito meses depois, desta vez com o navio de pesquisa RRS Discovery, do Centro Nacional de Oceanografia da Grã-Bretanha.

O projeto foi realizado em parceria com pesquisadores da Universidade de Southampton, na Inglaterra.

A evidência definitiva — descrita agora pelos pesquisadores na revista Scientific Reports — veio com a análise detalhada da composição e das propriedades (geoquímicas, minerais e magnéticas) da argila coletada.

Segundo os pesquisadores, os resultados indicam que essa camada argilosa é resquício de um solo orgânico, típico de ambientes tropicais, que só poderia ter se formado na superfície. “Fizemos todas as análises que podiam ser feitas e conseguimos entender a história geológica daquelas argilas”, diz o professor Luigi Jovane, do IO, que participou das expedições e coordenou as análises do material. “Não temos dúvida de que seja um paleossolo; não tem outra fonte para aqueles minerais.”

Em seu estado original, segundo Jovane, esse solo era idêntico ao daquela terra vermelha, típica do interior paulista. “O fato de que estamos encontrando esses indícios, de que essa área era uma ilha até pouco tempo atrás, é muito importante, porque mostra que havia uma relação direta com o continente”, avalia o pesquisador.

Isso não significa que a ERG chegou a estar conectada diretamente com o continente — ela é separada da plataforma continental e do Platô de São Paulo por um cânion profundo, chamado Canal de Vema, que chega a ter 50 km de largura e 4.800 metros de profundidade. Mas indica que ela tem uma história conectada com a do Brasil, afirma Jovane, com clima e solos idênticos no passado.

A submersão da ERG não ocorreu em função de uma elevação do nível do mar, segundo Jovane, mas pela subsidência da própria Elevação do Rio Grande, que teria afundado à medida que a câmara magmática que existia abaixo dela (e a empurrava para cima) esfriou.

Em outras palavras, foi a ERG que afundou, e não o oceano que a encobriu. É possível que isso tenha ocorrido mais de uma vez, dependendo do comportamento do magma.

Os pesquisadores não sabem dizer qual era a altura ou o tamanho exato da antiga ilha, já que o estudo é baseado em uma única amostra, de um único ponto da ERG.

O interesse do Brasil na Elevação do Rio Grande não é apenas científico.

Desde o fim de 2018, o País pleiteia junto à Organização das Nações Unidas o reconhecimento da área abrangida pela ERG como uma extensão da sua plataforma continental, o que conferiria ao País soberania sobre a exploração dos recursos minerais e outras possíveis riquezas encontradas em seu subsolo.

Além de Jovane, assinam o trabalho na Scientific Reports pelo IO os pesquisadores Priyeshu Srivastava e Muhammad Bin Hassan; pelo Instituto de Energia e Ambiente (IEE) da USP, Lucy Gomes Sant’Anna; e pelo Instituto de Geociências (IGc) da USP, Julia Guerra e Valdecir Janasi; além de pesquisadores do Indian Institute of Geomagnetism, da Índia; do Istituto Nazionale di Geofisica e Vulcanologia (INGV), da Itália; e do National Oceanography Centre (NOC) da Grã-Bretanha.

Mais informações: e-mail jovane@usp.br, com Luigi Jovane.

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