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Irá faltar a catarse

Naufragaram as boas intenções – se é que houve mais de uma – de Sylvio de Abreu e de Passione, o folhetim das nove horas que a emissora do Plimplim encaminha para o seu final.

No oceano inesgotável de canastrices, inverossimilhanças e clichês Passione superou o pior dos dramalhões mexicanos – que, por sinal, já não se vê mais, depois que a Globo transformou os seus em produtos de exportação. O “Manso” Totó (Tony Ramos) e famiglia mantiveram em toda a trama uma berrante opereta italiana. Salvou-se Aracy Balabanian, esta, sim, a Dama das novelas, com sua perfeita Gemma.

Na mansão Gouveia, excluindo-se a impagável Cleyde Yáconis e sua hilária Brígida, foi um Deus nos acuda. A diretora(???) reuniu num só balaio as fracas e nada convincentes atuações de Bete Gouveia (Fernanda Montenegro), e sua prole de mauricinho e patricinha – Gerson (Marcelo Antony) e Melina Robocop Gouveia (Mayana Moura).

A mansão do “Rei do Lixo”, realmente, como “lixeira”, mereceu uma estrondosa nota dez. Lembrou – aos mais antigos – as chanchadas dominicais da Atlântida.

Caíque Britto – que decretou a “morte” prematura de Sinval Gouveia – ouviu de sua mãe (esta, provavelmente, em meio a surtos e delírios), Vai, meu filho, você tem tudo para ser um Paulo Autran. O pior é que o menino acreditou! A morte de Diana (Caroline Dickmann) veio muito tarde. Autêntica “água de sal”, ou seja, vomitório! Nem tudo se perdeu, ao fim e ao cabo. Fred Lobato (Reynaldo Gianechinni) e Clara (Mariana Ximenes) mostraram a face mais desaforada, cínica e simulada dos vilões.

As palmas vão para Saulo (Werner Schunemann) e Danilo Gouveia (Kauan Reymonds). Os confrontos destas personagens sempre me provocaram fortes emoções. Danilo (apesar de que sejam os Danilos do Senado, das Assembleias Legislativas e das Câmaras Municipais, do Leblon, do Complexo do Alemão, da Bela Vista, do Montserrat, da Vila Maria Degolada, da Vila Cruzeiro que dão causa e existência às figuras torpes do traficante e do grande cappo), não poucas vezes, me provocou o conhecido “nó na garganta”.

Os Danilos, frutos de lares em que os valores de família, ética, moral e observância à Lei, infelizmente, não se sobrepuseram, não vieram desta ou daquela classe socioeconômica. Todas se mostram contaminadas ante as vicissitudes que se impuseram a cada uma delas. Não foi por uma insaciável, nem por isso menos prostituta e rameira, Stella Gouveia – e que Sylvio de Abreu, tardiamente e em flagrante demonstração de machismo para que a personagem não se tornasse apenas um “corno furioso”, emprestou ao germânico Saulo a fantasia de um amante latino. Antes, sim, por um histórico descaso dos governantes e legisladores brasileiros.

O cerco ao tráfico do Rio de Janeiro (como o foi Passione) não passará de um alegórico desfile na Marquês de Sapucaí, onde às luzes dos holofotes “douram a pílula” e o imaginário nacional, para tudo se acabar numa nublada quarta-feira.

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