Moradores de Itajaí contam como conseguiram contornar dificuldades
A enchente de novembro em Itajaí (SC) não poupou praticamente ninguém, pois 90% da cidade foi seriamente afetada pelas águas que invadiram as casas e carregaram móveis e utensílios domésticos. É o que conta o motorista de táxi Rogério Jiuvêncio, 45 anos, que sentiu na própria pele o terror das enchentes. Ele roda pela cidade dia e noite ao volente de seu carro e, antes, era garçom de restaurante à beira-mar.
Ele, a mulher e os filhos viram a água invadir sua casa e destroçar parte da mobília, mas não chegou a perder tudo o que tinha, como aconteceu com Adilson Amaral. Rogério mora em outra parte da cidade, a rua Vereador Airton de Sousa, no Bairro São Vicente, e lá também a violência das águas foi cruel com os moradores. “Eu não perdi tudo, mas minha irmã e meu cunhado ficaram sem nada. Quando a água invadiu a casa deles, eles chegaram a empilhar móveis em cima de uma mesa de sinuca, na esperança de que ela resistiria à enchente. Mas, a enxurrada carregou tudo e a mesa de sinuca ficou boiando com os outros móveis.”
Rogério faz uma comparação com a tragédia de 1983, quando outra enchente arrasou a cidade, e vê uma diferença que igualou toda a população de Itajaí, sem distinção de classes sociais:
“Na enchente de 1983, praticamente só os pobres sofreram. Desta vez, foi diferente. As casas dos ricos também foram invadidas pelas águas e eles também perderam o que tinham lá dentro, porque 90% da cidade ficaram inundados.”
O jornalista Adilson Amaral, pôde também sentir na pele, pela primeira vez, o que significa a expressão “perder tudo”.
“Eu moro no bairro Cidade Nova e quando a água começou a subir na minha rua, resolvi tirar de casa o que dava para salvar naquele momento: meus dois cachorros e meu computador, além de alguns objetos pessoais. Botei tudo no carro e fui para a casa de minha mãe, que fica numa parte mais alta e onde a água não podia chegar de jeito nenhum. Aí, voltei na minha casa e não pude mais entrar, porque já estava inundada até a metade das paredes. Não consegui salvar mais nada.
Adilson teve que comprar tudo novo, da mobília aos utensílios domésticos, e argumenta que, no seu caso, isso foi possível porque sua situação financeira lhe permitiu enfrentar os gastos necessários. Mas, lembra o caso de muita gente que, ainda hoje, passa por dificuldades e precisa do Auxílio-Reação de R$ 475 mensais pago pelo governo de Santa Catarina às vítimas cadastradas das enchentes.
Para ele, a tragédia, entre outras lições deixou, como mais importante, a certeza de que é preciso tomar providências para evitar que ela se repita. E é isso que as atuais autoridades municipais estão pensando em como fazer, porque, segundo Adilson Amaral, “a questão não é se vai acontecer de novo, mas quando”.