Nada se cria, tudo se copia — Quer título mais original? – Sergio Agra
Quem é mais inteligente, o homem ou a mulher? Qual o prato mais saboroso, a suculenta picanha ou o picante vatapá? Quem é a mulher mais bonita do universo, a branca a preta, a parda, a indígena ou a amarela?
São perguntas ilógicas e imbecis, tipo à La Fausto Silva, e que somente foram e são ouvidas em programas televisivos de auditório, formuladas para uma plateia ainda mais palerma.
O paladar, o conceito de beleza, de estética, são exclusivos, particulares de cada ser humano, assim como a inteligência independe do gênero ou da cor da pele, vez que esta é resultado de uma relação entre vários genes, que determinam uma série de fenótipos. Vale o mesmo para a indagação “quem teve melhor qualidade de vida, os nascidos antes da metade do Século XX ou os hoje sobreviventes?”.
Meu bisavô faleceu em seu sítio, no ano de 1954, aos noventa e quatro anos de idade, após quatro casamentos, dezessete filhos, sem considerarmos os frutos do “desvio de rota”, fumando seu palheiro e usufruindo do diário cálice de vinho. Minha mãe, por sua vez, entrevada, numa clínica geriátrica, em 2011, aos oitenta e oito anos, embuchada por treze medicamentos que lhe foram prescritos.
E então?
Todo este extenso prolegômenos para sustentar o levante, a “derrubada” à meritocracia dos tecnocratas do milênio terceiro que se vangloriam, dentre outras pseudos façanhas, de serem os “idealizadores”, os “inventores” das comodidades ao consumidor via compras on line.
Desconhecem eles o poder com que reinaram soberanos os “cadernos do armazém”, um pequeno livrete em que se anotavam, à esquerda de cada página, os itens de limpeza e higiene, os gêneros alimentícios da semana ou até mesmo os diários e, à direita, o proprietário do armazém consignava os valores de cada produto cujo pagamento seria honrado no final de cada mês. Num par de horas um moleque firmando um robusto balaio de vime consumava à domicílio a entrega dos pedidos.
Vale lembrar o pão, recém-saído do forno, e da garrafa de vidro do leite deixados às primeiras horas de cada manhã na soleira da porta das casas ou dos apartamentos.
— E não havia perigo de serem roubados, vô? — Fernando perguntou-me ante o cético olhar de seu pai.
— Os brasileiros — tornei a esclarecer – eram pouco mais honestos!
E os maus-caracteres não haviam descoberto ainda o caminho da política…