O Intruso
A ansiedade do visitante aumenta, e um nó lhe sufoca a garganta, quando o velho diz-lhe que a filha logo chegará. Seu pensamento fica alheado ante a esperança de revê-la, tantos anos depois…
De repente, através da janela, pelo lado de fora da casa, o homem depara-se com o rosto exuberante da mulher que esperava; ela ali estava já há algum tempo a olhá-lo, como se aquele momento por ela também fosse esperado.
Seu discreto sorriso revela que sabe a razão pela qual aquele homem aturdido está ali, dentro da casa, esperando-a. Parece atinar também do pesado fardo que ele carrega desde o primeiro momento em que a avistou, e que agora apenas queria lhe dizer três ou quatro palavras; depois, seguir seu melancólico destino…
A mulher, enfim, entra na casa ao mesmo tempo em que se ouve o ruído de um carro que chegava. Então, ela corre à porta. O visitante a segue; agora seria o momento de abordá-la: “Me ouve!” – diz ele – antes que o automóvel alcançasse a altura do alpendre. Mas ela estava fascinada pela nova visita que se aproximava.
O homem decide sair. Impulsivamente, passa pela mulher exatamente sob o alpendre da porta e sussurra: “Te espero ao pé do morro, junto à cancela”. Ela nada responde. Já a certa distância, apenas ouve a indagação feita à mulher daquele que acabara de chegar: “Quem é esse homem?”.
Ainda esperançoso, o homem desce a colina. Junto à porteira ele fica a aguardá-la. Transpira sob o intenso calor que fazia. A sede e a angústia o deixam intensamente desconfortável. “Ela virá?” – pensa. Obstinado, olha para o alto e ninguém se aproxima. Quanto tempo terá de esperar? Por fim, fatigado, desiste e se vai.
Antes de dobrar a curva que definitivamente esconderia a casa, no alto do morro, junto à varanda, o homem percebe a silhueta magra e esquálida do velho pai a lhe seguir os passos…