Ora, vejam só, o mundo é feito de pessoas!
Eu sei, esta é uma constatação um tanto óbvia, mas nem por isso deixa de ser interessante. Você que está lendo este texto, levante os olhos e veja se há alguém em volta. Provavelmente existe, e você já pensou que esta pessoa desconhecida, ou não, possui sentimentos, pensamentos, intenções e uma personalidade única? Muitas vezes não nos damos conta disso.
As pessoas estão em toda parte. Cada vez mais, é difícil achar um canto para ficar recluso, em silêncio, simplesmente pensando, sem ser influenciado pelo ambiente externo, apenas ouvindo um jazz de Miles Davis. Buzinas, gritos, telefonemas, obrigações cotidianas, diversos são os fatores que anseiam nossa atenção. Pudera, o homem não foi feito para viver em completa solidão. Existe algo em nós que anseia por interação. Se isso não existisse, não casaríamos, viveríamos cada um na sua toca fugindo de qualquer interação. O fato é que nossa sociedade moderna (por mais piegas que isso possa soar) exige um certo egoísmo competitivo. Não podemos perder o foco jamais! Não podemos perder tempo com os outros, temos que pensar em nós mesmos, afinal, estamos em uma selva.
Deus nos deu as pessoas para amarmos e as coisas para usarmos. Infelizmente temos invertido a sentença, usando as pessoas para alcançarmos determinadas coisas as quais passamos a amar.
No entanto, isso tem mudado! Mesmo no mundo capitalista o conceito de gestão de pessoas e a imperatividade do “saber lidar”, do fino trato, tem se mostrado presente de uns tempos para cá. Não é para menos, as pessoas são o cerne de todos os acontecimentos, especialmente quando o assunto são negócios. Não quero passar uma visão um tanto quanto renascentista ou humanista na qual o homem é o centro do universo, mas a questão é que conhecer e entender de pessoas é algo útil e quiça fundamental a qualquer profissional.
Por exemplo, essa semana o Ibovespa encerrou com queda. Tivemos um dado importante que foi a Produção industrial chinesa, que ficou aquém do esperado e colaborou com essa queda. Em geral as pessoas têm medo de arriscar ou de perder, afinal ninguém gosta de perder! Além disso, nossas reminiscências formam nosso caráter ou personalidade. Pois bem junte essas duas características gerais, com a interpretação de que a economia chinesa está arrefecendo, a memória de que acabamos de passar por um momento de crise nas principais economias mundiais e pronto, temos os motivos necessários para vender ações e ter receio quanto ao curto prazo. Isso explica em parte o movimento da bolsa essa semana.
Tivemos também uma diminuição dos volumes negociados na bolsa. Mas o que houve? As pessoas não são robôs, precisam de férias, descansar. Pois bem, agosto é tradicionalmente um mês de férias no rico hemisfério norte. Com alguns importantes investidores estrangeiros aproveitando os dias de folga, seria normal supor uma liquidez mais restrita por aqui, até porque aquele investidor que entrou no mercado no início de julho acumula uma alta interessante e, seria racional supor que este prefere esquecer de tudo, e simplesmente curtir suas férias, se desfazendo previamente de suas posições.
E o que pensar dos homens do FED?! Que tem o poder de influenciar a economia mundial? Eles são pais de família, com seus medos, suas incertezas, enfim. O fato é que eles estão menos otimistas com a economia americana e deixaram claros isso na última ata do FOMC divulgada essa semana e colaborando para um clima não tão promissor para os mercados.
Mas no que consiste os mercados? Em pessoas comprando e vendendo, só isso! Hoje elas estão um tanto quanto receosas, mas amanhã isso pode mudar e estas voltarem as compras elevando os preços dos ativos! Então é melhor entendermos o que se passa na cabeça das pessoas. Deveríamos estudá-las ao invés de criarmos modelos matemáticos que tentam desvendar o mercado. Se preocupe mais com as pessoas e quem sabe você conseguirá ganhar dinheiro.
William Castro Alves
Analista da XP Investimentos