Dom Jaime Pedro Kohl
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Quem tem o melhor vinho? – Dom Jaime Pedro Kohl

Certamente, no tempo de Jesus, não havia a infinidade de vinhos que temos hoje. Sabemos que o vinho é uma das bebidas mais comuns no cardápio das sociedades. A combinação pão e vinho parece ser uma alimentação básica. Na Palestina, no tempo de Jesus, tudo indica que era o que havia de mais comum.

Embora a Epifania se conclua com o Batismo de Jesus, a manifestação de sua identidade e missão continua em muitos outros textos bíblicos, como no milagre das bodas de Canaã.

Jesus, junto com seus discípulos, foi convidado a uma festa de casamento. Sua mãe também estava lá. Quando o vinho acabou, ela percebeu e apresentou o problema a Jesus: “Eles não têm mais vinho.” Jesus, meio contrariado, acaba se envolvendo para evitar o desconforto dos noivos e dos convidados.

Maria, então, avisa os servos: “Fazei tudo o que Ele vos disser.” Jesus pede que encham de água as seis talhas destinadas às abluções até a borda. Após a bênção, Ele ordena que o líquido seja servido aos convidados.

O mestre-sala, que nada sabia sobre a origem daquele vinho, ao prová-lo, elogiou o noivo por ter deixado “o melhor vinho” para o final da festa. O evangelista conclui: “Este foi o início dos sinais de Jesus; Ele manifestou a sua glória, e os discípulos creram nele.”

A manifestação da glória de Jesus é, também, a revelação de sua identidade e missão. João, porém, não fala em “primeiro sinal”, mas sim em “início dos sinais de Jesus.” Outros sinais, palavras e gestos prolongam sua Epifania.

Alguns detalhes nos ajudam a compreender a amplitude da mensagem desse texto. O evangelista não menciona o nome “Maria”; refere-se a ela como “a mãe de Jesus.” Por sua vez, Jesus não a chama de mãe, mas de “mulher”, e ainda afirma: “A minha hora ainda não chegou.”

Esse modo de falar remete ao Gênesis, quando outra mulher e outro homem romperam com a harmonia e estragaram a festa da humanidade, que agora parece se recompor com a participação fiel de Outro Homem e de Outra Mulher. Os sinais indicam que chegou a hora da salvação prometida.

As seis talhas de pedra, usadas para a purificação, estavam vazias, simbolizando o ritualismo que nada purifica. O “melhor vinho” pode ser entendido como o cálice da nova e eterna aliança, a realização da promessa messiânica, a salvação oferecida àqueles que entram no discipulado.

Estamos vivendo o tempo do Vinho Novo, da Nova Aliança, do Novo Casamento de Deus com a humanidade. O momento é novo, e a expectativa também é nova. Somente o encontro com Jesus pode dar um novo sentido à vida de muitos. Entremos na festa da vida, do amor misericordioso, capaz de transformar a água em vinho, as trevas em luz, e a morte em vida.

Dom Jaime Pedro Kohl – Bispo Diocesano

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