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Raízes

Aos dezesseis anos, meu pai juntou os de seu e os acomodou numa pequena mala de lona e, a bordo do vapor Venâncio Ayres, desceu o Rio Taquari e, ainda do convés, descortinou, por vez primeira, a pretensiosa aldeia que sonhava em, algum dia, ser metrópole: Porto Alegre. Nela se arranchou e somente lhe disse adeus para ser enterrado em seu torrão natal, Taquari.
É claro que ele jamais abandonara suas raízes.

Lembro-me de nossas idas a casa avoenga nos dias feriados de Páscoa, nas Festas de Fim de Ano e nas férias de verão. O álacre e ruidoso encontro com meus primos e os cuidados de nossa avó em nos silenciar, em respeito à sesta de Vô Nenê. O casarão, ainda hoje, me é a indelével lembrança de felicidade.

Há seis anos, em nome da promessa de uma melhor qualidade de vida, mudamo-nos para Capão da Canoa. Como meu pai, não esqueci – tampouco esquecerei – as minhas verdadeiras raízes. Não encontramos no novo ancoradouro os recursos médicos e emergenciais, laboratoriais, odontológicos, novidades literárias, culinários e, sobretudo, de lazer (cinema, teatro, feiras e parques) de que dispúnhamos. Mãe, filho, irmão e sobrinhos – laços indestrutíveis – são elos inquebrantáveis, razão, também, nesses anos todos, de minhas idas, invariavelmente duas vezes ao mês, a Porto Alegre.

“Roda mundo, roda gigante, roda moinho, roda pião, o tempo rodou num instante nas voltas do meu coração…”.

Não voltei mais a Porto Alegre desde que minha mãe partiu. A saudade dela ainda é muito presente e intensa. Sobrinhos e irmão têm vidas próprias. Filho casado… Aí eu sou um intruso, o “estranho no ninho”, a quebrar-lhes a rotina e a dedicação que os compromissos profissionais lhes impõem.

Sem ser piegas, é com outros versos de Chico Buarque que agora toca no CD que, neste domingo triste e chuvoso, olho as pesadas nuvens que encobrem as montanhas que me separam de Porto Alegre. De minhas raízes…

“Vou voltar
“Sei que ainda vou voltar
Para o meu lugar
Foi lá e é ainda lá
Que eu hei de ouvir cantar
Uma sabiá…”.

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