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Redução de IPI nos carros causa demissões no setor

A redução do Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI) dos carros novos, promovida pelo governo federal, com o objetivo de amenizar os efeitos da crise financeira internacional no setor automotivo, resultou em uma desvalorização dos carros usados. Em Brasília, o setor já demitiu 10% dos funcionários.

“Notamos uma diminuição no número de negócios realizados. Isso causou um impacto negativo, que influenciou na desvalorização dos nossos estoques. Compramos carros com preços superiores aos atuais e, com a baixa, tivemos de vender algumas unidades por valores inferiores aos pagos. A conseqüência foi a demissão de 10% dos funcionários que atuavam nas revendedoras em Brasília”, informou o vice-presidente da Associação dos Revendedores de Veículos do Distrito Federal (Agenciauto), Maurício Mustefaga.

Entre setembro e novembro, foi detectada uma queda de 25% no número de negócios realizados com carros usados. “Mas em dezembro a situação melhorou e conseguimos recuperar parte do que havíamos perdido. Atualmente estamos com uma queda de apenas 15%, acumulada desde setembro”, disse o vice-presidente da Agenciauto. “A diminuição dos preços resultou em um aumento do número de negócios”, completou.

Mustefaga apontou a dificuldade de aprovação de crédito, como o maior problema para o setor de revenda de veículos usados. “Se fosse para comprar à vista, até valeria à pena comprar um usado”, disse o servidor público Wesley Peixoto, pouco antes de desistir da compra de um semi-novo na Cidade do Automóvel – uma área de Brasília especializada em comércio automotivo usado.

“Levei em consideração a queda no preço do zero em decorrência da redução do IPI”, justificou. Até o início da próxima semana, Wesley espera fechar a compra de um carro zero. “Baixamos o preço de quase 90% do nosso estoque. Os descontos estão entre 10% e 15%”, informou Rodrigo Cintra, o gerente da loja em que Wesley se encontrava.

Para José Graciano, empresário do ramo há mais de 25 anos, a crise tornará mais realista o valor dos usados. “Os preços estavam supervalorizados e a crise apenas comprovou isso”, disse.

O presidente da Federação Nacional das Associações dos Revendedores de Veículos Automotores (Fenauto), Ilídio Gonçalves, explicou que, antes mesmo da redução do IPI, os preços dos carros usados já haviam caído entre 30% e 40%.

“Na média nacional, a crise reduziu em cerca de 50% o total de vendas entre setembro e novembro, mas o mês de dezembro indica uma certa recuperação, reduzindo o acumulado para 35%. Nossa expectativa é de recuperar um pouco mais dessa perda em janeiro, que costuma ser um mês bastante positivos para o setor”, informou Ilídio. “Geralmente evitamos demissões entre dezembro e janeiro, porque são meses de muitas vendas”, completou.

Até fevereiro, a Fenauto terá finalizado um estudo mais apurado apontando as regiões mais prejudicadas. “Posso antecipar que as demissões no período áureo da crise [outubro e novembro] devem ficar entre 2% e 5% por decorrência da crise e da queda do IPI para os novos. Não é nada alarmante, até porque o mercado de usados no Brasil tem ainda muito a crescer, se comparado a outros países”, prevê Ilídio.

Segundo ele, nos Estados Unidos, para cada mil habitantes, 854 possuem carros. Na França, a proporção é de 620 carros para cada mil habitantes. “Aqui no Brasil esses números são bastante inferiores. Para cada mil habitantes, apenas 124 possuem automóvel”, disse.

A Associação dos Revendedores de Veículos Automotores no Estado de São Paulo (Assovesp) informou que a desvalorização média dos carros usados no estado foi de 0,59% em novembro. Os populares desvalorizaram 0,45%, e os importados 1,38%. Carros a álcool desvalorizaram 0,66% e carros tipo Flex desvalorizaram 0,79%.

Segundo a entidade, estimativas apontam para um total de 152.299 negócios realizados em novembro pelas revendas independentes de São Paulo. Isso representa uma redução de 6,75% em relação ao mês anterior, quando o volume estimado foi igual a 163.321 negócios.

Os carros populares representaram 70,3% dos negócios realizados, e os não-populares 29,7%. A queda nas vendas dos carros modelo 1.0 foi de 4,77%, segundo a Assovesp. Em relação ao mês de setembro – último mês antes de a crise apresentar efeitos no país -, o volume de negócios realizados sofreu uma redução de19,48%.

A Assovesp identificou também aumento no número de financiamentos entre outubro (49%) e novembro (59%). O prazo médio dos financiamentos foi de 47 meses em novembro e de 45 em outubro. O saldo financiado foi de 72% em novembro e 64% em outubro, e as trocas ficaram em 58% em novembro, contra 48% em outubro.

Em novembro, ao contrário do mês anterior, o baque não foi tão grande, segundo a associação. Os negócios, apesar de ainda estarem à espera do desenrolar e dos desdobramentos de crise, conseguiram caminhar, apesar de o crédito estar escasso e com dificuldades para aprovação e liberação. Segundo a Assovesp, na ponta final – a dos tomadores de financiamento – o crédito ainda é uma miragem, apesar das ações das autoridades monetárias terem liberado os bancos de uma parte do compulsório.

A entidade informou que o mercado de motocicletas aumentou em 2,47% e que este tipo de veículo foi desvalorizado em 1,30%. Foi estimado um total de 7.979 negócios envolvendo motos em novembro, contra 7.787 em outubro. Em contrapartida, apenas 30% dos negócios com motos foram financiados em novembro, contra 63% em outubro.

O prazo médio do financiamento foi de 24 meses em novembro e de 39 em outubro. E o saldo médio financiado foi de 51% em novembro, contra 73% em outubro. As trocas foram realizadas em 25% dos negócios em novembro. Em outubro, elas representaram 38%.

Os caminhões foam valorizados em média 0,61%, segundo a Assovesp, que identificou uma redução de 10,65% no mercado, com um volume estimado de 5.246 negócios em novembro, após os 5.871 negócios estimados para outubro. Apenas 31% dos negócios foram financiados em novembro, contra 45% em outubro.

O prazo médio de financiamento para caminhões usados foi de 24 meses em novembro, contra 40 meses em outubro. O saldo médio financiado caiu dos 53% em outubro para 34% agora em novembro – uma queda de 19 pontos percentuais. Trocas ocorreram em 21% dos negócios, representando um aumento de seis pontos percentuais, se comparado a outubro, quando apenas 15% dos negócios envolveram algum tipo de troca.

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