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Também quero ir-me embora pra Pasárgada

Estou desencantado, desiludido com a política e os políticos tupiniquins. Ética, probidade, integridade e honestidade são hoje decantadas como inusitadas virtudes. Como se ser ético, probo, íntegro e honesto não fossem obrigações e deveres primeiros do exercício de cidadania.

Tornei-me um ser amargo. Triste e constrangido. A vergonha, o ódio e a revolta de ter nascido numa republiqueta de bananas, onde proliferam as fraudes, a corrupção e os desmandos do “coronel” Sarney e seus “cumpadres”, sufocam minh’alma. Fui testemunha do ocaso dos últimos e legítimos bastiões da política maiúscula como Teotônio Vilella, Leonel Brizola e Miguel Arraes. Resta-nos, aos gaúchos, a voz solitária de Pedro Simon. Essa atual e cruel realidade rouba toda e qualquer perspectiva de um horizonte cívico luminoso. Foram homens, polêmicos, impulsivos, até; sobretudo Brizola. No entanto, foram sempre leais aos princípios da honra, da ética e da moral até o derradeiro sopro de vida.

Voltando alguns anos em nossa história, trazemos à luz Pinheiro Machado, Oswaldo Aranha, Ruy Barbosa. E se mais não digo, não é por má memória, porque os anais da política brasileira não são pródigos de homens dos quais não se pode lhes imputar qualquer nódoa impunemente. Negociata ficou terminantemente oficializada como “todo o bom negócio do qual não fomos convidados”.

A descrença no “País do futuro”(?) e seus governantes, esmorece toda e qualquer vontade de viver. Estou com ódio, sinto a revolta e a vergonha trespassarem meu peito. Ódio, revolta e vergonha ganham uma dimensão ainda maior ante a certeza de que eles, a quadrilha, a bandidagem política brasiliense, aqueles mesmos que nós, brasileiros, elegemos nos últimos pleitos, ora empanturram-se de caviar, lagosta, champanhas e vinhos de generosas safras, trocando, com a corriola de bancada, anedotas cuja personagem é o tolo, o otário, o panaca do trabalhador brasileiro.

Como candidatos, no calor da campanha, eles prometem os céus, alisam e abraçam o operário, a dona-de-casa, beijam a prole ranhenta e, nas sombras, se banham em litros de água sanitária, o desinfetante para os arroubos afetivos que só uma eleição garantida justifica. Eleitos, resguardam-se na redoma da plenipotência. Retornam à surdez, à cegueira e à megalomania há muito inoculadas em suas entranhas.

Ah, Bandeira (Manoel Bandeira), meu idolatrado poeta! Foste por demais egoísta! Foste embora e não me deixaste o caminho, o mapa de um mundo mais feliz. Como esse que teus versos retratam:

“Vou-me embora pra Pasárgada
Lá sou amigo do rei
Lá tenho a mulher que eu quero
Na cama que escolherei
Vou-me embora pra Pasárgada
Vou-me embora pra Pasárgada
Aqui não sou feliz. ”……

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