Vacinas – Jayme José de Oliveira
PONTO E CONTRAPONTO- por Jayme José de Oliveira
“Por mais brilhante que sejas, se não fores transparente, tua sombra será escura”.
VACINAS
O médico britânico Edward Jenner, em 1796, percebeu que as vacas infectadas com a versão bovina da varíola – vaccinus vaca – que provocavam pústulas nas tetas, ao serem ordenhadas infectavam os fazendeiros com a doença. Mas era uma versão atenuada e surpreendentemente gerava uma memória imunológica contra a varíola humana que é altamente letal, matava 30% dos adultos e 50% das crianças pequenas.
Na época os micróbios já eram conhecidos, o holandês Anton van Leeuwanhoek detectava os micróbios através dos microscópios que ele mesmo fabricava. Na época ninguém imaginava que esses seres minúsculos pudessem ser causas de doenças, pensava-se que eramdoenças eram originadas por “miasmas” , ares com cheiro pútrido provindos de zonas pantanosas. Isso mudou no final do século XIX quando cientistas com John Snow, Louis Pasteur e Robert Koch apresentaram a tese que atribuía a origem das infecções aos microorganismos patológicos.
Pasteur criou a segunda vacina – contra a raiva – para prevenir a doença e o soro, obtido atravésdo soro de sangue de cavalos infectados. Desde então as vacinas são utilizadas para prevenir doenças e os soros para tratamento.
Robert Koch estabeleceu pela primeira vez o vínculo de uma doença, a tuberculose , com m agente específico, um bacilo que recebeu a denominação de bacilo de Koch.
Um mundo sem vacinas teria menos habitantes pois as doenças endêmicas que afetam durante décadas ou séculos causam um número impressionante de mortes. A varíola, antes de sua erradicação, causou 500 milhões de óbitos. Hoje, graças à vacina, talvez seja a única doença que é considerada pela Wikipedia como extinta, pertence ao passado. Antes de se alegar a existência da “vacina dos macacos” cumpre salientar que esta é causada por outro tipo de vírus. O vírus da varíola humana só existe conservado em estado criogênico (temperaturas abaixo de 150%) e é guardado em dois centros governamentais bem vigiados, os Centros de Controle e Prevenção de Doenças (CCDC) de Atlanta, EUA e pelo Instituto Vector em Koltsovo, na Rússia.
O extremo cuidado que se emprega na vigilância desses vírus s justifica plenamente. Um descuido que permitisse a disseminação causaria uma catástrofe de proporções inimagináveis, principalmente nas mãos de terroristas.
Raciocinemos a partir do fatoque perder um recém-nascido era corriqueiro na era pré-vacinas, dizia-se a “a criança não vingou”. Sarampo, hepatite B, catapora, meningite, varíola e tantas outras infecções virais ou bacterianas diminuiriam drasticamente a população. Em 1500 havia 461 milhões de habitantes na Terra; em 1860, 989 milhões. Nesse ritmo estaríamos atualmente com no máximo 2 bilhões de pessoas. Hoje, graças em parte às vacinas somos 7,8 bilhões.
Outro ponto a considerar é o conceito do “burdendisease”, o “fardo da doença”. Quantos anos de vida saudável seriam perdidos porque não teriam sido evitadas doenças.
Vítimas graves de poliomielite (paralisia infantil) ficavam condenados a passar a vida em “pulmões de aço” para conseguir respirar, isso quando tinham acesso a tal maquinário.
O mundo sem vacinas é um mundo com menos idosos, a maioria das pessoas que padece com doenças e outras como o câncer e o Alzheimer seria significativamente menor, não viveríamos o suficiente para sermos vítimas delas, é um fato incontestável.
O Brasil teve uma das campanhas mais exitosas do mundo no que se refere à campanha de vacinação contra a poliomielite, tanto que o último caso registrado foi em 1989. Em 1994 o país recebeu certificado de erradicação da doença.
É um risco a tendência das populações relaxarem quando o perigo diminui, mesmo que temporariamente. A baixa vacinação contra a pólio no Brasil e novos casos no mundo acende um alerta para o risco de uma volta da doença. Nunca foi tão baixa no Brasil, caiu de 96,55% em 2012 para 67,71 em 2021. Está na hora dos pais lembrarem do horror que foi erradicado e levar os filhos para tomar as três doses e eliminar a possibilidade do retorno após mais de 30 anos.
Jayme José de Oliveira
cdjaymejo@gmail.com
Cirurgião-dentista aposentado