Vamos sozinhos para um lugar deserto– Por Dom Jaime Pedro Kohl
Esse convite de Jesus aos discípulos depois de um dia de intensa atividade apostólica é um indicativo importante para todos nós, que passamos nosso tempo correndo atrás de uma agenda sempre cheia de compromissos.
Sabiamente Jesus mostra aos discípulos que se querem manter o equilíbrio emocional e espiritual precisam se disciplinar, achar tempo para estar com ele antes de sair a pregar em seu nome. Ele mesmo costumava se retirar sozinho na montanha ou num lugar afastado do barulho e da agitação para rezar, para meditar e discernir suas ações e atitudes para realizar a vontade do Pai.
Alguns acham que tirar tempo para estar a sós com Deus, numa meditação silenciosa e contemplativa, seja capricho de quem não tem nada para fazer, de gente preguiçosa ou ainda pura beatice que não serve para nada, perca de tempo. Eis uma mentalidade tipicamente capitalista e mercantilista. Só vale o que produz, bens de consumo, que dá dinheiro.
Até as férias de direito, que deveriam ajudar a manter o equilíbrio emocional, físico e espiritual quantas vezes se tornam desgastantes, voltando mais cansados do que quando partiram.
Não será essa uma das causas de muita gente frustrada, deprimida, triste, insatisfeita e perdida no mundo da droga, da violência, na prostituição?
Não são o abandono de Deus, a falta de fé e de prática religiosa, o afastamento de tudo o que é espiritual, a ausência de momentos de silêncio, a não participação na vida de comunidade, que deixam o homem de hoje tão vazio de sentido?
Quando as pessoas, em nome da liberdade, não colocam um objetivo maior para a própria vida, algo que transcenda o puramente material e aprazível, acham de serem os sábios deste mundo, mas na realidade são os mais sujeitos a alienação.
A história mostra que as pessoas com profunda vida de oração são pessoas fecundas de idéias e de obras em favor do bem, da libertação, da promoção das pessoas e de uma sociedade justa e solidária.
É triste ver que as pessoas se esquecem das amizades mais puras, do simples estar com os próprios familiares e amigos. Não param mais. Não dialogam mais. Não escutam mais. Não amam mais.
Quando estamos cansados e atribulados escutemos o convite do Senhor Jesus: “Vamos sozinhos para um lugar deserto”.
O Senhor sempre nos espera para um encontro restaurador.
Dom Jaime Pedro Kohl – Bispo de Osório – domjaimep@terra.com.br