VARIG — serviço de bordo: uísque
No final do ano de 1969, Artur Poester e Breno Wiethölter prestaram provas para o curso de mecânica da VARIG. Para surpresa geral, ambos, foram aprovados. Além do curso correspondente ao segundo grau integralmente gratuito, a empresa oferecia aos alunos uma bolsa-auxílio de dois salários-mínimos por mês.
As aulas se iniciaram no mês de março do ano seguinte; logo que venceu este mês, o Artur apareceu com o primeiro salário. Na mesa do Bar da Júlio, noite de sábado, patrocinou boa rodada de chope aos amigos. Ao fechar o Bar, dando sequencia à comemoração, comprou uma garrafa de uísque para sorvê-la com a turma no final da Vila Jardim Cristofel.
Naquela madrugada de fim de verão, sentados sobre o cordão da calçada, como se fosse uma “roda” de chimarrão, começaram a beber o uísque. Encontravam-se, além do “dono” da garrafa, os Dullius — Werner e Harley —, Breno, Zé Pinto, Vitola, Negrão, Dable, Guto e Alírio. Esvaziada a garrafa, restava apenas o toque de recolher. Artur percorreu o pouco mais de cem metros da Vila Cristofel amparado pelos amigos, cujo estado, a bem da verdade, não era melhor daquele que havia patrocinado o uísque.
Na esquina da Vila Jardim Cristofel com a 24 de Outubro, entre duas e três horas da madrugada — não se distinguia o tempo –, dizendo-se estar em condições, Artur foi posto dentro de um táxi, rumo ao Menino Deus, bairro onde morava.
Soube-se, bem depois, que Artur, com a família em rebuliço, somente pela manhã chegou em casa, trazido por uma ambulância do Pronto Socorro. Contou, então, a seguinte história: Ao seguir para casa, no táxi, sentiu fome. Decidiu mudar o trajeto e ir ao Zé do Passaporte comer cachorro-quente. De repente, parado em pé no estacionamento, enquanto degustava o lanche, foi atropelado por um “fusca”. Coisa leve, mas o bastante para levá-lo ao chão. O motorista do automóvel fez questão de levá-lo ao Pronto-Socorro, ficando ali em observação. Acabou por adormecer. Depois, quando acordou, já de manhã, convenceu aos médicos para que autorizassem a sua remoção numa ambulância para casa.
A família comovera-se ante o ocorrido e Artur se recolheu convalescente. Naquele dia teve atendimento diferenciado, onde não faltou dieta especialmente elaborada. A manhã passou, a tarde chegou e, com ela, o taxista que havia apanhado Artur na madrugada anterior, que contou a verdadeira versão:
— Senhora — disse o motorista à mãe do Artur —, seu filho apanhou o meu táxi na Praça Júlio, por volta das três da manhã e pediu para tocar para o Menino Deus. Quando dei conta, o rapaz estava dormindo, a sono solto, deitado no banco traseiro. Não havia jeito de acordá-lo para saber qual a rua do bairro que eu deveria deixá-lo. Não tive alternativa: conduzi o rapaz para o Pronto Socorro. Agora à tarde, passei por lá e me deram esse endereço, pois a ocorrência da entrada foi feita somente pela manhã, na hora em que o rapaz acordou. Na ficha consta esse endereço. Somente quero o pagamento da minha corrida…
Durante anos Artur não bebeu uísque.