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Velho Continente

Bom, vamos logo aos fatos. Dizem que notícia ruim se espalha rápido. Então, vamos colocar as cartas na mesa e profetizar a respeito do passado. O mundo grego parecia se dissolver em meio a especulações de bancarrota em função de sua elevada dívida. Os deuses já haviam abandonado o concílio no monte Olimpo e a Grécia parecia largada a sua própria sorte. Mas, no final de semana passada, as autoridades monetárias da CE (Comunidade Europeia) se juntaram ao Tio Patinhas (FMI) e, sensibilizados com as dificuldades vividas lá pelas bandas do mediterrâneo, resolveram lançar um pacotão, bem ao estilo americano do salve-se quem puder.

Pois é, o mercado adorou e a segunda-feira amanheceu com bolsas recuperando-se do tombo da semana passada. O que a CE fez foi algo do tipo dar o cartão de crédito para a esposa passear no shopping, ou seja, algo perigoso a menos que o limite deste cartão fosse baixo. Existem aqueles que acreditam que esse tipo de medida é necessária para salvar casamentos. O fato é que, já na terça-feira, o mercado começou a calcular e a especular que este cartão poderia não ser suficiente. A questão é que este é um casamento poligâmico e aí o que poderia acontecer se Espanha, Portugal, Irlanda também quiserem esse mimo?

Mais que um mimo, as medidas tomadas na Europa têm o intuito de manter o velho continente unido e manter a sustentabilidade de sua moeda única, que hoje é colocada em cheque em diversas mesas de operação. Alguns já apostam no colapso do Euro, outros mais extremistas acreditam no fim deste casamento, outros preferem simplesmente proteger seu patrimônio e fugir para uma moeda mais “forte”, nesse caso o dólar. O fato é que a situação de dívida dos países do bloco europeu, a não dinamicidade de suas economias, associados aos elevados gastos públicos decorrentes do estado de bem estar social criado pelo conceito social democrata vigente por lá, tem deixado muitos investidores atentos no mundo todo de orelha em pé!

Por hora, apenas a Espanha se pronunciou dizendo que vai tomar medidas de austeridade fiscal, ou num português mais claro, fechar as portas dos cofres e gastar menos, nesse caso, cortando salários dos funcionários públicos. Muitos economistas aplaudiram de pé a medida, inclusive os investidores e, com isso, o mercado chegou a reagir durante a semana. Mas é claro, esta é a solução! Como não pensaram nisso antes! Basta que todos os países do bloco que tenham elevadas dividas cortem seus gastos e estará resolvido o problema de suas dívidas. Ou seja, o governo cortar gastos, cortar salários de funcionalismo, cortar benefícios para velhinhos, cortar ajuda dada a mães de recém-nascidos, entre outros.

Mas nem tudo que reluz é ouro. Essas medidas estão longe de serem fáceis de ser implementadas e, de fato, uma solução. A vida não é tão simples assim, infelizmente. O que acontecerá se todos os países reduzirem gastos e salários? Bom, não precisa ser gênio para saber que a renda das pessoas diminuirá. Se isso acontecer elas vão consumir menos. Com o governo também cortando seus gastos, quem vai consumir? Bom, temos aí um problema de queda da demanda agregada. Os empresários antevendo isso poderiam pensar: pra que eu vou produzir se minha demanda vai se reduzir? Se eles pensarem isso, eles não só produzirão menos, como reduzirão seus quadros de funcionários. Bom, se isso acontecer o desemprego aumenta e aí já viu, né? É um círculo nada virtuoso! Mas que sinuca de bico que se meteram esses europeus, hein!

Enfim, o foco dos mercados tem sido sem sombra de dúvidas o velho continente e este foi o motor do desempenho dos mercados nesta semana. Como o motor estava ligado em marcha ré acabamos não tendo uma semana de recuperação como pronunciava-nos na segunda-feira. Ainda assim, o Ibovespa encerrou a semana ainda com uma valorização de 0,86% aos 63.412 pontos.

Para a semana que vem devemos continuar de olho no velho continente e seus novos problemas.

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