A verdade – Por Jayme José de Oliveira

A verdade - Por Jayme José de Oliveira

“A verdade é uma vasilha com duas alças, pode ser empunhada pela direita ou pela esquerda”. (Montaigne)

Tudo na vida tem um lado mais aparente, não nos esqueçamos porém que, como as moedas, possui outra face, esta momentaneamente oculta, porém real. Basta um toque e os papeis se invertem.

Na história da humanidade os ciclos se alternam viciosamente quando ambos insistem em serem donos da verdade e da razão. Os árabes e judeus são semitas, embora oriundos do mesmo ancestral (Sem, filho de Noé), se digladiam há milênios, desde o tempo dos filisteus… não se vislumbram paz, entendimento e, muito menos, congraçamento.

O Papa Francisco e o Patriarca Bartolomeu assinaram em 25/05/2.014 uma declaração em comum encerrando o litigio que perdurava desde 1.054 provando que se pode conviver desde que haja boa vontade e respeito às ideias da outra parte.

“O processo de cura também necessita incluir a busca pela verdade, não para que sejam abertas velhas feridas, mas como meio necessário para promover a justiça e a unidade”, afirmou o papa.

Opto pela convivência sem ódios. E o leitor?

Jornalista Vladimir Herzog:

Morreu no dia 25 de outubro de 1.975 durante uma sessão de tortura, na rua Tomás Carvalhal, 1.030, no bairro do Paraíso, em São Paulo, num prédio utilizado pelo Destacamento de Operações Internas – Comando Operacional de Informações do II Exército.

Embrulha-me o estômago o relato. E o do leitor?

Tenente Alberto Mendes Júnior:

Yoshitane Fujimore, sob o comando do capitão Lamarca, desferiu coronhadas de fuzil pelas costas. Caído, amarrado e com a base do crânio partida, o tenente Mendes gemia e contorcia-se de dor. Diógenes Sobrosa de Souza desferiu os golpes finais, esfacelando a cabeça. Ali mesmo, numa pequena vala e com os coturnos ao lado da face ensanguentada, o corpo foi enterrado.

Estes fatos só foram esclarecidos após a prisão do terrorista Ariston Oliveira Lucena, que apontou o local onde os despojos estavam enterrados. As fotografias tiradas do crânio atestam a violência desmedida.

Descoberto o crime, a VPR – organização “Ao Povo Brasileiro”, tenta justificar o covarde e frio assassinato. Dele consta o seguinte trecho:

“A sentença de morte de um Tribunal Revolucionário deve ser cumprida por fuzilamento. No entanto, nos encontrávamos próximos ao inimigo, dentro de um cerco que pôde ser executado em virtude da existência de muitas estradas na região. O tenente Mendes foi condenado e morreu a coronhadas de fuzil, e assim o foi, sendo depois enterrado.”

Embrulha-me o estômago o relato. E o do leitor?

Deputado Federal Rubens Paiva:

A Comissão Nacional da Verdade apresentou na tarde desta quinta-feira (27/01/2.014), relatório preliminar da pesquisa sobre a prisão e morte do ex-deputado federal Rubens Paiva. Segundo o relatório apresentado pela pesquisadora e advogada Rosa Maria Cardoso no auditório do Arquivo Nacional, no Rio de Janeiro, Paiva foi preso na manhã do dia 20 de janeiro de 1.971, torturado até o dia seguinte, quando não suportou a violência dos militares e morreu. Os militares ainda foram acusados de ocultação de cadáver.

Embrulha-me o estômago o relato. E o do leitor?

Camponês João Pereira:

Em depoimento na Câmara dos Deputados em 2.005 o coronel Lício Maciel relatou a morte brutal de um jovem de 17 anos chamado João Pereira durante a guerrilha no Araguaia. Esse garoto acompanhou o grupamento do coronel Lício durante seis horas, foi o suficiente para os terroristas decretarem sua morte para servir de exemplo aos moradores da região. João Pereira teve as orelhas cortadas a faca, depois os dedos e as mãos, foi finalmente esfaqueado. Tudo isso diante de sua família.

Embrulha-me o estômago o relato. E o do leitor?

Esses foram fatos – entre muitos – que decorreram durante os “anos de chumbo”. Houve selvageria? Houve! De ambos os lados.

Era uma luta dos que lutavam pela democracia contra a ditadura? Acessem o link e acompanhem o depoimento de Fernando Gabeira um dos guerrilheiros que, inclusive, foi preso e posteriormente trocado junto com 39 companheiros, pelo embaixador alemão Ehrenfried von Holleben.

A ditadura do proletariado – Fernando Gabeira – 1min52seg

https://www.youtube.com/watch?v=8VtXhnxWHC0

Transcrevo parte da entrevista:

– “Os principais ex-guerrilheiros costumam dizer que estavam lutando pela democracia. Eu não tenho condições de dizer isso. Eu estava lutando contra uma ditadura militar, mas se for examinado o programa político que nos movia naquele momento, era voltado para uma ditadura do proletariado. Então você não pode voltar atrás, corrigir o seu passado e dizer: olha, naquele momento eu estava lutando pela democracia. Havia muita gente lutando pela democracia no Brasil, mas não especificamente os grupos armados que tinham como programa esse processo de chegar a uma ditadura do proletariado…

(a entrevista segue por mais um minuto)

Ditadura militar e ditadura do proletariado – Eduardo Jorge – 5min18seg

https://www.youtube.com/watch?v=-iB8h4s_vRU

Cada qual que julgue os fatos e os interprete. Como humanos, TODOS somos preconceituosos. O que devemos evitar é permitir que esses preconceitos nos levem a transformar verdades em mentiras, ou vice-versa.

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