Jayme José de Oliveira
Colunistas

1808 – II – Jayme José de Oliveira

A Família Real de Portugal iniciou viagem em 29 de novembro de 1807 e aportou na Bahia antes de se dirigir ao Rio de Janeiro. Na Bahia foi relevante a atuação de D. João VI, inclusive, abriu os portos do Brasil para navios de nações amigas.                                                                               INICIAVA UMA NOVA ERA NA HISTÓRIA DO BRASIL.

A esquadra de D. João VI e da Família Real Portuguesa entrou na Baia da Guanabara na tarde de 7 de março de 1808 para se estabelecer no Rio de Janeiro, uma cidadezinha de casas brancas, alinhadas rente à praia, emolduradas por altas montanhas cobertas por uma floresta luxuriante.

“D. João VI não primava pela elegância, vestia-se mal, repetia a mesma roupa todos os dias e recusava-se a troca-la, mesmo quando já estava suja e puída, conta Pedro Calmon. Na algibeira da casaca o rei levava os famosos franguinhos assados na manteiga, sem ossos, que devorava nos intervalos das refeições”.

Três homens exerceram um papel fundamental na história de João VI:     O primeiro foi D. Rodrigo da Costa Coutinho, o conde de Linhares, promoveu o desenvolvimento dos territórios portugueses na América. Sua morte, em 1814, abriu uma brecha no governo que D. João jamais conseguiu preencher.                                                                                                O segundo foi Antônio de Araújo e Azevedo, o conde da Barca. Não estava à altura do anterior como estadista, mas era considerado um dos intelectuais mais ilustres da corte no Brasil. Foi ele quem trouxe na bagagem, em 1807, as máquinas impressoras inglesas que inauguraram a imprensa no Brasil. Morreu em 1817, um ano antes da coroação de D. João VI.                                                                                                                          O terceiro homem decisivo na vida de D. João foi Thomás Antônio Villa Nova Portugal. Na fase final de seu governo no Brasil, já velho e cansado, D. João confiava cegamente em Villa Nova Portugal, não se dava ao trabalho de pensar, conta Tobias Monteiro, cabia Thomás resolver todas as questões, por mais insignificantes que fossem.                                                   Foram esses três homens que ajudaram a salvar a biografia de D. João, aparentemente condenada ao fracasso caso dependesse apenas de sua própria personalidade.

A corte chegou ao Brasil empobrecida, já estava falida quando deixou Lisboa, mas a situação se agravou no Rio de Janeiro. Deve-se lembrar que entre 10.000 e 15.000 portugueses atravessaram o Atlântico junto com D. João VI. Onde achar dinheiro para socorrer tanta gente? A primeira solução foi obter um empréstimo da Inglaterra, no valor de 600.000 libras esterlinas. Seria um pedaço da dívida que o Brasil herdaria de Portugal depois da Independência (sempre a dívida a nos apoquentar, aumentou em escalada escandalosa até atingir as cifras trilionárias da atualidade). Outra providência, igualmente insustentável no longo prazo, foi criar um banco estatal para emitir moeda. O “Banco do Brasil” é um exemplo do compadrio que se estabeleceu entre a monarquia e uma casta privilegiada de negociantes e fazendeiros, a partir de 1808.                                Qualquer semelhança com os desmandos praticados pelos últimos presidentes do Brasil não émera coincidência.

Os cariocas, já naquela época, celebrizaram em versos:                                 “Quem furta pouco é ladrão,                                                                                               Quem furta muito é barão,                                                                           Quem mais furta e esconde,                                                                                       Passa de barão a visconde”.

Passados os atropelos da chegada, era hora de por mãos a obra e havia de tudo para fazer no Brasil: estradas escolas, tribunais, fábricas, bancos, comércio, imprensa, hospitais, comunicação… Em especial um governo organizado, escreveu o historiador Pedro Calmon. D. João não perdeu tempo. No dia 10 de março de 1808, quarenta e oito horas depois do desembarque organizou seu novo gabinete. O primeiro Ministério do Brasil ficou assim constituído:

NEGÓCIOS ESTRANGEIROS E DA GUERRA: D. Rodrigo de Souza Coutinho, futuro Conde de Linhares;                                                                                 NEGÓCIOS DO REINO: D. Fernando José de Portugal, futuro Marquês de Aguiar;                                                                                                                   NEGÓCIOS DA MARINHA E ULTRAMAR: D. João Rodrigues de Sá e Menezes, Visconde de Anadia.

Caberia a esse ministério criai um país do nada. Melhorar as comunicações entre as províncias, estimular o povoamento e o aproveitamento das riquezas da colônia. Ampliar as fronteiras do Brasil para estabelecer os limites de um país em vias de desenvolvimento.

Entrementes, em Portugal sedições pipocavam e indicavam a necessidade da Família Real retornar. D. João enfrentou um dilema crucial: se voltasse a Portugal, poderia perder o Brasil, que acabaria decretando a independência. Se permanecesse no Rio de Janeiro, perderia Portugal.        D. João cogitou a hipótese de enviar o príncipe regente D. Pedro enquanto permanecia no Brasil. D. Pedro recusou a alternativa e decidiu permanecer no Brasil, onde se sentia mais à vontade. Depois e muitas discussões, D. João surpreendeu com a seguinte frase:  “Pois bem, se o meu filho não quiser ir, eu irei”.

No dia 26 de abril de 1821, D. João partia do Rio de Janeiro sem saber exatamente o que o esperava em Portugal.

UM REI DE NATUREZA TÍMIDA E AVESSO A TOMAR DECISÕES ENFRENTOU NAPOLEÃO EM 1807 E CONSEGUIU NÃO APENAS PRESERVAR OS INTERESSES DE PORTUGAL COMO DEIXAR O BRASIL MAIOR E MELHOR DO QUE HAVIA ENCONTRADO AO CHEGAR AO RIO DE JANEIRO, EM1808.

Jayme José de Oliveira
cdjaymejo@gmail.com
Cirurgião-dentista aposentado

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