Plano prevê ampliação do ensino de música no país
Em 2005, a cidade de São Paulo dispunha de 47 cursos superiores de música. Enquanto isso, os estados do Acre, Amapá, Rondônia, Roraima e Tocantins não tinham sequer uma escola. Com base nesse dado, o Plano Nacional de Cultura (PNC) estabelece como desafio a ampliação da oferta de ensino, pesquisa e formação profissional de música, principalmente clássica.
Os números são do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) e constam do caderno de diretrizes do plano, que será lançado hoje (3), em Brasília. Segundo a pesquisa do IBGE, somente 11,5% dos municípios brasileiros possuem orquestra, por exemplo.
No entanto, o caderno do PNC não cita a formação de um público que goste de orquestras e concertos como fator preponderante para que a maior difusão da música clássica traga retorno positivo aos investimentos do governo no setor.
Questionado sobre a questão, o representante de música erudita no Conselho Nacional de Políticas Culturais – que acompanha e avalia o PNC -, Álvaro Santi, defende que essa formação deve se dar por meio da educação musical.
“A formação de público passa, funcionalmente, pela educação musical, e principalmente, antes de mais nada, nas escolas, pelo ensino formal. Inclusive em relação a isso foi aprovado no Senado um projeto para tornar obrigatória a formação musical nas escolas. Isso passa pela educação artística como um todo.”
Santi, que é o relator do PNC, acrescentou que, para haver mais clareza sobre o tema será preciso “enxugar” o documento, hoje com 88 páginas. Ele ainda será discutido em cinco seminários regionais e será submetido à consulta pública antes de voltar ao Congresso para substituir o texto do Projeto de Lei nº 6.835/2006, que propõe a aprovação do plano.
“Talvez é uma crítica que se pode fazer a esse documento como está hoje. Talvez ele precise ser mais sintetizado, menos esmiuçado em segmentos, setores e áreas, mas ter diretrizes que possam ser mais abrangentes. Eu acho que é isso que teremos que buscar para esse documento, que na verdade é um documento inicial, para discussão com a sociedade”, defendeu Santi.
Já o coordenador-geral do plano, Gustavo Vidigal, acredita que o problema da formação de público e as demais peculiaridades da área de música devem ser resolvidos quando for criado um plano setorial para a música, previsto no PNC – assim como para todas as outras áreas.
“O plano nacional aborda a cultura de modo geral e, a partir dele, planos setoriais serão feitos. É um plano que vai ter que ser elaborado e que vai ter que levar em conta que a música popular tem especificidades, assim como a música erudita. O plano tem que dar conta de tanto uma como outra característica especial”, pontuou Vidigal.
Outra tese que ele defende é a formação de público deve ser trabalhada por meio de parcerias com os governos municipais e estaduais.
“Formação de público é a típica iniciativa que depende de uma articulação de governo municipal, estadual e União. Todo mundo tem que desenvolver uma política como essa. Mas você não pode discutir formação de público sem discutir o acesso. O estado de São Paulo teve há um tempo uma política muito interessante de formação de público, de levar o teatro às escolas e aproximar a formação do estudante, na escola, das artes”, exemplificou.