A raposa e as uvas, apenas uma fábula? - Litoralmania ®
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A raposa e as uvas, apenas uma fábula?

“Chora a nossa pátria mãe gentil
Choram marias e clarisses no solo do Brasil”.
João Bosco – “O bêbado e a equilibrista“.

Hesito, por alguns bons minutos se, a cada amanhecer, devo ou não abrir as páginas dos diários. É, no entanto, impossível fugir à leitura das chamadas de capa, ante a formatação dos caracteres de garrafais dimensões.

E as palavras penetram-me a alma como adagas implacáveis, marchetando do mais denso rubro o templo das virtudes que os antepassados exemplarmente souberam fazer a semeadura. Quando penso (e desejo) tenham-se esgotado os meios fraudulentos, imorais e antiéticos de lesar e dilapidar o erário público e o bem comum, sou implacavelmente vergastado por fatos novos. Como sonhar com atitudes outras, se até a instância máxima dos nossos tribunais expõe, ao que tudo indica, o cancro de uma de suas células – sabe-se lá há quanto tempo – necrosada?

Por isso, os fatos que ora assombram o plenário e os corredores do Tribunal de Contas, (que ironia!, órgão estadual fiscalizador) – a constatação de salários de até R$ 55.000,00 –, não poderiam causar tamanha perplexidade.

Não obstante, indizíveis são os sentimentos que se apossam de todo um funcionalismo público massacrado e vilipendiado ao ser alvo do riso demoníaco, do sarcasmo e do mais ignominioso deboche daqueles marajás. Asco, repugnância, frustração e, ao final, impotência ao constatar o verdadeiro perfil de nossas gentes: acomodação! Quem sabe, se fôssemos verdadeiramente os filhos heróicos deste solo, e se servissem nossas façanhas de modelo a toda terra, pudéssemos cercar aquele Tribunal e fazer com os que lá se instalaram com o fito único do logro, do compadrio corporativo, fugir em covarde disparada para os redutos de onde jamais deveriam ter saído?

Se consultarmos a lista dos apaniguados do Tribunal de Contas, nos defrontaremos com não poucos nomes que fizeram uma única e insignificante passagem pelo Palácio Farroupilha; e o que melhor sabem agora fazer é exalar o sarcasmo e o deboche sobre a nossa condição de trouxas. Em suma, as uvas estão sob os cuidados de algumas poucas, mas espertas raposas.

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