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Ensaio sobre o Encantador de palavras

Está nas escolas o desafio maior para os autores. É neste “universo” que surgem as perguntas mais simples e bem elaboradas, e que são também as mais complicadas para serem respondidas. Satisfazer a curiosidade destes “leitores” é tarefa das mais difíceis (e prazerosas também), uma vez eles não estão interessados no quanto de teoria eu uso no processo de criação literária. O espaço entre a pergunta e a resposta é mágico. E nós, poetas e escritores, não podemos lhes negar o mínimo que seja desse fascínio que o livro causa, e nem deixar de falar da literatura, que é a estrela maior. Pois, eles esperam respostas criativas e descontraídas, mostrando um pouco mais deste apaixonante universo, com relatos sem cortes do nosso pleno envolvimento com a arte da palavra.

Constantemente, nos informais bate-papos e durante as palestras que ministro para o público escolar, surgem questionamentos a respeito de como é o processo de criação literária e de que forma o autor se organiza dentro do seu tempo. Com certeza, um mágico instante a ser compartilhado pelo leitor e pelo autor, frente a frente… É nesta hora que o autor se mune do copo d’água, e é o momento mais importante para quem levanta a pergunta. Falo, então, do glamour das palavras expresso na simplicidade com que o autor transita pelo gesto criativo. De uma forma autêntica e sem deturpar a função do texto literário, tento convencê-los de que o poeta e o escritor são exímios sedutores na arte de conquistar palavras, e que por isso são também conhecidos de Encantadores de palavras. Claro, numa linguagem apropriada para este público.

A gente aprende com esses leitores. Não raramente me pego a refletir sobre por que eu escrevo. E chego apenas a uma mísera resposta: não sou eu que busco criar textos, é a necessidade de dizer alguma coisa que me faz escrever… Eu não escolhi ser poeta, mas acredito que isso não aflorou por acaso. Mas também acredito que todo artista, antes do amadurecimento intelectual, precisa cumprir seus estágios: ser jovem, inexperiente. É neste período que se aprende a lapidar a inspiração, a conceber a importância da técnica literária, a criar não para satisfazer-se, a compreender que definida enquanto criação, a obra literária não é produzida sem que outra imaginação seja ativada primeiro: a do escritor.

O escritor jovem tem ansiedade, eloqüência, impaciência, voracidade. Fugaz ao tempo, escreve compulsivamente na incessante busca do primoroso ‘amadurecimento intelectual’. Não fujo à regra. Vejam o que disse o escritor americano John Gardner (1933-1982), que se destacou nos anos 1970 como professor de Técnica Literária: “Para atingir seu objetivo de se tornar um grande artista, o jovem escritor tem de desenvolver não um conjunto de normas estéticas, mas a mestria artística. Só não deve imaginar que possa dominá-la de uma só vez, pois isso implica muitas coisas. No entanto, se perseguir seu objetivo de maneira correta, poderá alcançá-la muito mais depressa do que se for, aleatoriamente, com muita sede ao pote”.

O amadurecimento intelectual depende de muitos fatores, e ocorre aos poucos, num processo contínuo e lento. Desenvolver a técnica, a consciência e o perfil arte são atributos que devem ser adotados por todo literário consciente do seu ofício. Mas nem só de técnicas se faz um excelente artista. São fundamentais outros atributos, como, por exemplo, a tão discutível inspiração. Eu fui, no início da carreira literária, e lá se vão dez anos, ‘inspiração’. Ou seja, antes de assumir a importância dos instrumentos técnicos da literatura, que me possibilitaram evoluir artisticamente, acreditei ser a inspiração a coisa mais importante de um texto. Mais tarde, por meio de leituras orientadas, descobri que há métodos e domínios nas intermediações da escrita, que todo escritor deve estar familiarizado. Mas tão-somente conhecer métodos e domínios estéticos não é suficiente, uma vez que o escritor deve saber usá-los.

Tenho consciência de que, equivocadamente, textos meus não lapidados do ponto de vista técnico, foram levados a público sem o devido amadurecimento – processo necessário de qualquer texto antes da sua publicação, no livro ou em periódicos. Publiquei-os na excitação do momento, tão propício quanto impulsivo. Ficou, invariavelmente, o aprendizado. Por certo, o combustível vanguardista de todo e qualquer grande escritor. Conheci técnicas literárias e aprendi a valorizá-las, mas nunca desacreditei no valor essencial da inspiração. Observa-se, portanto, que inspiração é um artifício, um instrumento a mais para ser usufruído na confecção do texto literário, e a técnica para aprimorá-lo.

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