Educação Vem de Berço ou Não?
Parte I (crianças)
Outro dia caminhando na rua e vendo as atitudes de uma criança, lembrei do ditado que diz “Educação Vem de Berço”. Em seguida veio ao meu pensamento minha infância e adolescência. Naquele tempo, bastava o olhar severo dos pais para advertir e realinhar atitudes travessas dos filhos. Responder de forma ofensiva então, era pecado mortal.
Então percebendo a postura de grande parte de crianças, posso pensar que este berço está com problemas. Os últimos tempos têm dado amostras de resultados desastrosos de uma educação com baixos limites em sua estrutura, além da bola-de-neve dos relacionamentos ruins que são desenvolvidos nas famílias. Parte destes, são conseqüência deste equívoco.
Nem sempre família estruturada, com pai e mãe presentes é sinônimo de filhos educados e bem resolvidos. Um exemplo típico é passado diariamente na novela Caminho das Índias onde o pai, o ator Antonio Calone através de atitudes protecionistas acoberta o filho quando este insulta e despreza os professores. Este é um exemplo típico de pai ausente e despreparado. O contrário também se torna visível com a família que reside na favela. A mãe a atriz Neusa Borges cria sozinha dois filhos (um com problemas emocionais) o outro, um menino inseguro que tem vergonha de que seus amigos descubram que tem um irmão com problemas. Parece que ter problemas é algo muito vergonhoso e desmoralizador.
No mês de Janeiro a gerente de nossa loja de Quintão Denise, flagrou uma mulher roubando duas bermudas na loja. Com ela estava um menino de mais ou menos seis (6) anos. Ele tinha a função de sentinela, pois ficava observando as balconistas enquanto a mãe punha os produtos embaixo da camiseta. O roubo foi frustrado porque o pequeno ainda não é esperto o suficiente para averiguar os ambientes no ângulo de 360 graus. Denise se encontrava fora do campo de visão dele, quando ele se apercebeu da aproximação da funcionária cutuca a mãe avisando-a. Porém, já era tarde, o roubo havia sido detectado. Denise fez a ladra devolver as mercadorias, em seguida passando reprimenda. Ela, de cabeça baixa saiu rapidamente da loja arrastando o filho pela mão.
Hoje, mediante as dificuldades cotidianas de se educar os filhos, vê-se muitas vezes a necessidade de agir com maior rigor. O que nem sempre acontece.
Devemos partir de um princípio muito simples: os pais devem estar envolvidos por sentimentos fundamentais, como amor, afeto, respeito e muito diálogo, em cada uma das fases da vida dos filhos. Além da necessidade de impor limites, nossas atitudes como pais devem ser firmes e positivas. Dar o exemplo de caráter e retidão. As crianças são muito observadoras, tanto que, as atitudes dos pais vão ter maior efeito do que as palavras. As crianças tratam as pessoas da mesma maneira que são tratadas em casa pelos pais.
Outra situação que também envolveu um menino, relato nesta crônica.
Num domingo pela manhã entrou na loja uma senhora acompanhada de um filho que aparentava não ter mais de dez anos. Atendida pela balconista, solicitou olhar as bermudas de promoção que se encontravam expostas nas vitrines. A funcionária gentilmente buscou três bermudas. O filho da cliente de boné enterrado na cabeça ficava resmungando pela loja. E, ao ser chamado pela mãe para escolher uma das bermudas gritou: Já te falei que não quero bermuda nenhuma, sua puta! Vai comprar este troço pros os teus machos. A mãe dando sinais de vergonha disse que compraria a bermuda da mesma forma.
O menino então, continuou dizendo absurdos para a mãe. Penalizada com ela, resolvi intervir. Aproximei-me do menino e lhe disse que aquele não era o local apropriado para o tipo de palavrões que ele estava usando. Como meu semblante deveria estar mostrando a indignação, ele calou-se. Ao chegar no caixa a mãe agradeceu minha intervenção. Afirmei a ela que intervi por respeito a ela, não pela loja. Ela pagou e saiu. A funcionária que estava perto da porta de saída relatou que ao sair da loja o pequeno encheu a boca com palavrões para comigo. Mandou me a lua.
Pergunto-me: – O que aquela mãe está fazendo pelo filho? Qual a educação, limites e respeito que terá do seu filho no futuro? Qual é o exemplo que está dando para o filho?
Acredito que educação deve acontecer em casa, e à escola compete à formação acadêmica, acrescida de alguns valores morais. Portanto, é um casamento de forças educacionais e não um jogo de empurra-empurra, no qual a criança deixa de ser educada e de quebra sente-se um transtorno tanto na família como na sociedade. A educação leva muito tempo, não acontece da noite para o dia. É um processo lento e gradual. Não somos máquinas programáveis, somos gente, que necessita de desenvolvimento e maturidade para tornar a vida melhor.
Outra questão é o sentimento de culpa muito comum nos pais em virtude do pouco tempo que passam juntos com os seus filhos. Também pelo baixo ânimo e paciência que oferecem após um dia de exaustivo trabalho, além do acúmulo de noites mal dormidas, etc. No entanto, a culpa apenas dificulta a educação, diminuindo as chances de se praticar o que é necessário. Geralmente o que se percebe é que, os pais acabam invertendo as prioridades, presenteando quando se sentem culpados, e geralmente quando os filhos fazem cobranças.
Família e meio social, são as manifestações iniciais de educação na vida da criança. Entretanto, penso que é reversível este quadro através de uma revolução social pela educação. Educação com ênfase para valoração dos princípios morais. Não da forma de imposição como na educação antiga, mas sim, uma educação que evidencie os preceitos morais valorativos para uma convivência pacífica, em especial o respeito, amor e a solidariedade. Esses valores passam pela educação dos jovens que constituirão as futuras famílias. Não existe família perfeita, todo temos nossas limitações. O importante é nunca perdermos a calma para lidar com as adversidades.
Não há receitas para educar, acredito que não devemos comprar os filhos com coisas. E acima de tudo o diálogo tranqüilo entre os pais é fundamental para a educação dos filhos. Opiniões diferentes podem ocorrer, mas será bem melhor para os filhos que os pais encontrem um equilíbrio na missão: que é educar o ser humano para que este leve uma vida mais plena e harmoniosa.
A loja Thais de Quintão já está em ritmo de carnaval.
É um lindo exemplo de trabalho em equipe.
Um carnaval cheio de emoções desejamos à todos.