Dogma – um princípio de doutrina falível e discutível
Nas últimas semanas, as notícias predominantes na mídia nacional foram os casos de violência doméstica – em Alagoinha, no Estado de Pernambuco, e em Irai, no Rio Grande do Sul – caracterizada por estupros perpetrados por padrastos ou pais adotivos contra duas meninas. A criança de Alagoinha conta, apenas, com nove anos de idade. Estava grávida de gêmeos, e a gestação, de altíssimo risco, foi interrompida através de aborto. A gauchinha, com onze anos, de quem pretendo comentar numa outra crônica, por sua vez, deu à luz a uma menina.
Apesar de proibido, a legislação brasileira permite que o aborto aconteça em duas ocasiões; em caso de estupro e quando a gestante corre o risco de morrer.
O aborto da garota pernambucana foi criticado pela Igreja Católica, que excomungou a mãe da criança e os médicos que realizaram o procedimento. A excomunhão foi anunciada pelo arcebispo de Olinda e de Recife, dom José Cardoso Sobrinho. A Igreja Católica tinha expectativa de que a gravidez da criança fosse mantida. O arcebispo tentou convencer os pais a rever o aborto. A mãe da menina, no entanto, estava irredutível e sequer quis conversar com o arcebispo. Apesar da pouca idade e do procedimento delicado ela se recupera bem.
Representantes da Igreja Católica defendem a posição do arcebispo de Olinda de forma pueril, argumentando que, “em casos como estes, quando a Igreja se pronuncia, ela sai como vilã da história, e os principais autores dos erros saem despercebidos. A mídia parece querer acentuar mais o pronunciamento de excomunhão do bispo dom José Cardoso Sobrinho do que os procedimentos de estupro e de aborto”.
Buscam esses religiosos sustentação no movediço terreno das possibilidades, ao invocarem caso semelhante de uma menina peruana, de nove anos, que teve o desfecho do nascimento de um menino com 2,520 quilos e 47 centímetros.
Eis o ensinamento do Cristo: Amarás ao Senhor teu Deus de todo o teu coração, de toda a tua alma e de todo o teu espírito. Este é o maior e o primeiro mandamento. E eis o segundo, que é semelhante àquele: Amarás teu próximo como a ti mesmo .(Mateus, 22: 34 a 40). Mas Cristo também preconizou: Aquele dentre vós que estiver sem pecado lhe atire a primeira pedra. (João, 8: 3 a 11). O arcebispo Dom José Cardoso Sobrinho acaso crê estar em tamanha “santidade”? Ele e seus intransigentes defensores deveriam antes de tudo o que preconizam olharem com mais atenção a seus próprios umbigos.