Uma zorra nas Índias
Esta era uma velha anedota contada pelo humorista José Vasconcellos, num tributo ao mais famoso caubói do cinema: John Wayne.
Pois a dona Glória Perez, em seu folhetim global, “O Caminho das Índias”, exagerou no número de protagonistas que, por pouco não faltaram atores para o elenco de outras telenovelas.
Não assisti na íntegra àquela novela que, felizmente, apesar do alto pico de audiência (é a falta de vida inteligente na TV aberta!), no sábado, 12, viu a reprise de seu último capítulo. Insuportável, torturante a histeria das abastadas famílias indianas que cruzaram a trama inteira falando aos gritos, bebendo infusões e deliciando-se com a dança das crianças ao som de uma música das mais irritantes.
Dona Glória, a exemplo de suas novelas anteriores, ainda tem laivos ao recorrer a temas polêmicos e de impacto, no caso, a psicopatia e a esquizofrenia, bem “traduzidas” ao laico pelas explicações da personagem de Stênio Garcia, o Dr. Castanho, que funcionou como excelente fio condutor.
O par romântico – Maya Meetha e Raj Ananda –, protagonizado por Juliana Paes e Rodrigo Lombardi, conquistou a empatia junto ao telespectador muito mais pela estética dos atores. O terceiro elemento, daquele que seria o triângulo amoroso, Márcio Garcia, com seu Bahuan, perdeu-se num dos muitos escaninhos que surgiriam no decurso do folhetim. Dos “medalhões”, Eva Todor, Christiane Torloni, Elias, Glazer, Humberto Martins (sua interpretação foi positivamente natural, emprestando veracidade ao personagem) e Laura Cardoso, defenderam com dignidade seus papéis.
Que pecado, por sua vez, cometeu Osmar Prado – ator de imenso talento – para sofrer o “castigo” de uma personagem tola como Manu Meetha, imposto pela dona Glória? Pandit, personagem de José de Abreu, não disse a que veio. A robótica e deformada Vera Fischer e o canastrão Victor Fassano esbanjaram “aulas” de como não se deve representar.
Faço minhas reverências ao jovem Bruno Gagliasso, que defendeu sua personagem, Tarso Cadore, com extremo talento e competência. A música “Maluco Beleza”, entoada ao final, foi um belo gol, ante tanta inverossimilhança nos demais núcleos (o badboy atropelador “virou” exemplar prestador de serviços).
O diretor Marcos Schechtman e sua equipe, no entanto, foram acometidos de cegueira total na desenvoltura de alguns núcleos, sobretudo naquele em que, à deriva, navegaram as patéticas figuras de Chico Anysio e do ator que interpretou seu filho na trama (prêmio de consolação?). Estavam, ambos, mais para Zorra Total, o que, aliás, “O Caminho das Índias”, apesar de seu alto índice de audiência, mais pareceu ser.