Colunistas

Uma zorra nas Índias

– “À sua frente, encontravam-se dez mil Dakotas (Sioux); à esquerda, oito mil Apaches; e, à direita, cinco mil Cheyennes. Havia tanto índio que, durante um mês, nos cinemas concorrentes, não foram exibidos filmes de caubói, por falta de índios”.

Esta era uma velha anedota contada pelo humorista José Vasconcellos, num tributo ao mais famoso caubói do cinema: John Wayne.
Pois a dona Glória Perez, em seu folhetim global, “O Caminho das Índias”, exagerou no número de protagonistas que, por pouco não faltaram atores para o elenco de outras telenovelas.

Não assisti na íntegra àquela novela que, felizmente, apesar do alto pico de audiência (é a falta de vida inteligente na TV aberta!), no sábado, 12, viu a reprise de seu último capítulo. Insuportável, torturante a histeria das abastadas famílias indianas que cruzaram a trama inteira falando aos gritos, bebendo infusões e deliciando-se com a dança das crianças ao som de uma música das mais irritantes.

Dona Glória, a exemplo de suas novelas anteriores, ainda tem laivos ao recorrer a temas polêmicos e de impacto, no caso, a psicopatia e a esquizofrenia, bem “traduzidas” ao laico pelas explicações da personagem de Stênio Garcia, o Dr. Castanho, que funcionou como excelente fio condutor.

O par romântico – Maya Meetha e Raj Ananda –, protagonizado por Juliana Paes e Rodrigo Lombardi, conquistou a empatia junto ao telespectador muito mais pela estética dos atores. O terceiro elemento, daquele que seria o triângulo amoroso, Márcio Garcia, com seu Bahuan, perdeu-se num dos muitos escaninhos que surgiriam no decurso do folhetim. Dos “medalhões”, Eva Todor, Christiane Torloni, Elias, Glazer, Humberto Martins (sua interpretação foi positivamente natural, emprestando veracidade ao personagem) e Laura Cardoso, defenderam com dignidade seus papéis.

Que pecado, por sua vez, cometeu Osmar Prado – ator de imenso talento – para sofrer o “castigo” de uma personagem tola como Manu Meetha, imposto pela dona Glória? Pandit, personagem de José de Abreu, não disse a que veio. A robótica e deformada Vera Fischer e o canastrão Victor Fassano esbanjaram “aulas” de como não se deve representar.

Faço minhas reverências ao jovem Bruno Gagliasso, que defendeu sua personagem, Tarso Cadore, com extremo talento e competência. A música “Maluco Beleza”, entoada ao final, foi um belo gol, ante tanta inverossimilhança nos demais núcleos (o badboy atropelador “virou” exemplar prestador de serviços).

O diretor Marcos Schechtman e sua equipe, no entanto, foram acometidos de cegueira total na desenvoltura de alguns núcleos, sobretudo naquele em que, à deriva, navegaram as patéticas figuras de Chico Anysio e do ator que interpretou seu filho na trama (prêmio de consolação?). Estavam, ambos, mais para Zorra Total, o que, aliás, “O Caminho das Índias”, apesar de seu alto índice de audiência, mais pareceu ser.

Comentários

Comentários