Colunistas

Streap tease da alma

Todos, indistintamente, desde a mais tenra infância e, permanentemente, em diferentes momentos da vida, elegemos nossos paradigmas. Desde o líder da turma de bairro, o colega que obtém nota 10 nas provas, a menina mais cobiçada pelos rapazes, o galã do cinema, a “namoradinha” do Brasil, a top model, o piloto de fórmula 1, o político manhoso e corrupto que sai incólume das investigações e CPI’s que lhe são movidas (sim, por que não?) o empresário bem sucedido, o grande “barão” do tráfico, enfim, todo o caudal de modelos possa nossa imaginação vislumbrar.

Quando garoto sonhava, um dia, ser um talento como Garrincha. Enquanto meus companheiros de “peladas” no campinho da rua Avaí se embasbacavam com Gilmar, Bellini, Newton Santos, Pelé, eu sonhava com o Gênio das Pernas Tortas. Chegava ao extremo de dobrar aqueles membros para “caracterizar”, ainda mais, o ídolo. Nunca passei, mesmo, de um “peladeiro”, de um perna-de-pau.

Quando, nos verdes anos, a musa da literatura me ungiu, foi em Fernando Sabino e Rubem Braga que me espelhei para garatujar as primeiras crônicas. Em silêncio, no entanto, nutria incontestável admiração pela polêmica literatura de Nelson Rodrigues. Eles, os polêmicos, se sucederam – nunca roubando um o espaço de outro. E vieram tantos: Janer Cristaldo (por onde anda?), Juremi Machado da Silva, Paulo Francis, Arnaldo Jabor, Diogo Mainardi. Maravilhosos polêmicos! E os Rodrigues, os Cristaldo, os Juremi, os Francis, os Mainardi – guardadas as infinitesimais proporções – romperam as travas do “armário” do meu eu onde, até então, se encontravam.

Sem ser profissional da literatura, muito escrevi nos grandes jornais de Porto Alegre; conquistei inúmeros prêmios em concursos literários; participei de quatorze antologias e publiquei dois livros “solo”. Exatamente por aquela primeira razão, e alimentado pelos espaços e prêmios, o aprendiz da polêmica literária, embarafustou-se por caminhos outros que não este (a polêmica, unicamente).

Muitos foram os artigos escritos sob a ilusão de provocar reflexões que se transformaram em autênticos exocets direcionados àqueles que ousassem sobrepor minha “brilhatura”.

Sim, eu sou um megalômano. Sim, sim, sim, mil vezes, sim, sou um narcisista, com síndromes de um Napoleão, de um Alexandre, o Grande: as luzes dos spots somente a mim deveriam estar direcionadas. Por isso, aos incautos, o polegar do imperador romano estava sempre voltado para baixo: Morra!

Assim, morre hoje, no crematório das vaidades para não sobrarem eventuais resquícios, o megalômano, o narcisista que, em febril cegueira, tenha cometido injustiças. E, asseguro-lhes, ao contrário de Alexandre, o Grande, não ”prevejo uma grande disputa nos meus funerais”, mesmo porque, no fundo, no fundo, sou demasiado humano!

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