Colunistas

Sobre os trilhos do bonde

Vivi, em Porto Alegre, grande parte de minha infância e adolescência, na rua José do Patrocínio. Era uma artéria onde o comércio disputava o espaço com os prédios de apartamentos. Estas construções determinaram os limites dos horizontes e das distantes colinas até então avistados da bucólica Cidade Baixa. Por ser uma via de ligação com os bairros da Zona Sul, o trânsito – além dos automóveis – de bondes e ônibus era intenso, o que não impedia, no entanto, a prática das peladas de futebol na calçada larga do primeiro quarteirão.

Por inusitado – ainda que único –, nosso grupo não se limitava tão somente a gremistas e colorados; havia o José Antônio, leal cruzeirista. O Sport Club Cruzeiro, na época, localizava-se no Alto da Colina Melancólica, encravado entres os cemitérios ali ainda hoje existentes.

Pois num belo domingo, em que o Cruzeiro, em sua sede, disputava importante rodada com o Aymoré, de São Leopoldo, o meu faceiro amigo apanha o bonde e ruma para o Estádio… dos Eucaliptos, do Sport Club Internacional, no bairro Menino Deus…

Passados quase cinquenta anos, José  Antônio, daquele domingo em diante, só atende pelo nome de “Zé  do Bonde Errado”.

Em meio ao clamor – não apenas de autoridades e setores da sociedade italiana – de todo o cidadão brasileiro de bom senso para que o Brasil cumpra a decisão do Supremo Tribunal Federal de extraditar o ex-militante de esquerda Cesare Battisti, o ministro da Justiça, Tarso Genro, tratou de esfriar as pretensões europeias, afirmando, em suas palavras que a tendência é de que o presidente Lula da Silva mantenha o criminoso no Brasil por razões – pasmem!!! – humanitárias. Induz o malfadado ministro ao néscio para que, em supremo desrespeito ao Tribunal Maior, desautorize a extradição, não de um asilado político, porém de um frio e calculista assassino, foragido da Justiça italiana que o condenou à pena de prisão perpétua. Regurgita o ministro da Justiça, em defesa de seu entendimento, jurássicas palavras de ordem do tempo em que ser trotkista-leninista ainda era charme.

Tarso Genro destronou meu amigo José  Antônio. Tarso Genro deseja ser, hoje, o Zé do Bonde Errado, Primeiro e Único!

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