Colunistas

Dança do siri

Dois pra cá, dois pra lá. Dizem que é assim que se dança forró. Mas existem aqueles que conseguem adaptar todos os tipos de dança a essa métrica de fácil aplicação. Samba, vanerão, xote, enfim aqueles que são desprovidos de uma de nossas características principais como brasileiros, o gingado, tem que se “virar nos trinta” quando o assunto é dança.

Pois é, esse mês a bolsa entrou no ritmo de carnaval e tirou o investidor para dançar. O ritmo foi fácil, dois pra cá e dois pra lá, bem do jeito que os desengonçados gostam. Mas aquilo que é fácil na teoria nem sempre é na prática e como era a bolsa que conduzia, teve muito investidor que errou o passo e atravessou o ritmo. Refiro-me às duas semanas de queda e duas semanas de alta que tivemos ao longo desse mês. O mês começou com um tango triste bem ao estilo de Carlos Gardel, com a bolsa emplacando uma queda forte; aí veio o carnaval, alegre, descontraído, pena que ele acabou; para encerrar o mês tivemos uma mudança de tom, e o Ibovespa entrou numa ré menor, recuando 1,62% e encerrando o mês nos 66.503 pontos.

Essa semana o mercado abriu em compasso de espera pela batuta do maestro Ben Bernanke (presidente do Banco Central americano), acreditando que este poderia falar algo que desse um novo rumo para os mercados. Em linhas gerais, ainda que ele não tenha apresentado nenhum “hit” o mercado parece ter ficado um pouco mais tranquilo com a perspectiva de manutenção de juros baixos por um período prolongado de tempo. Internamente, os tocadores do Banco Central brasileiro resolveram dar uma “palinha” com a decisão de elevação do compulsório dos bancos. Para àqueles que nunca ouviram essa, compulsório é o dinheiro que está aplicado nos bancos e que não pode ser usados por este para emprestar. Quando o BC eleva a proporção de dinheiro que não pode ser emprestado, ele está deixando menos dinheiro disponível no mercado e com isso controlando indiretamente a inflação e, também, em certa medida, controlando o consumo.

Em geral, esses dois fatos se somaram ao resto da orquestra e formaram uma música ainda desafinada. A Europa segue envolta em preocupações com países com elevadas relações Dívida/PIB; os EUA dão sinais de força e retomada, mas ainda estão com uma taxa de desemprego elevada, o que acaba minando a confiança do consumidor; a China e outros países emergentes continuam no seu bom ritmo de crescimento, sustentando a economia global; e o Brasil também mantém a trajetória de retomada econômica e segue agora reduzindo os incentivos dados à economia ao longo de 2009.

Parece que a bolsa está dançando a dança do siri. Isso mesmo, aquela que ganhou fama com humoristas de um famoso programa de TV. É quase um dois pra cá e dois pra lá. Mas mais esquisito, sem muita forma, ou melhor, em forma de siri, que caminha de lado. De repente alguém grita lá na Europa: “o FMI e o Banco Central europeu vão entrar em cena!” Lá vamos nós para um lado. Aí vem um indicador de confiança do consumidor ainda fraco; lá vamos nós para outro lado. É a dança do siri!

Comentários

Comentários