Exame de Motorista
Rosário do Sul, não tinha Departamento de Trânsito.
Os interessados em tirar a carteira de motorista se inscreviam na Delegacia de Polícia com o Delegado Ary Nelson, o qual após constatar que se tinha número suficiente, mais ou menos dez candidatos, comunicava a Delegacia de Trânsito de Livramento que destacava um examinador para fazer as provas de sinais e de direção, exigidas, naquele tempo.
Como toda a cidade do interior, quando existia um evento dessa natureza, era dia de muita gente na rua, especuladores, populares que se reuniam para ver a aplicação das provas de direção que eram as mais importantes e deixavam os candidatos mais nervosos.
A prova que mais atraia público era a aprova de lombada na qual o candidato vem dirigindo e, a uma ordem do examinador, para o carro, deixa em ponto morto, puxa o freio de mão e depois arranca de novo, suavemente, retomando o caminho anteriormente iniciado. Alguns mais experientes fazem esta manobra usando, somente, a embreagem.
Os exames de lomba eram feitos na Rua Amaro Souto, perto do 2º RCMoto, o nosso Regimento Militar.
Numa destas vezes, na qual os exames aconteciam, existiam muitos candidatos e muito público que, aplaudia os que tinham sucesso e vaiava os que saiam mal ou rodavam.
Estabelecia-se, até, um pequeno comércio onde eram vendidos pastéis e bolo frito passado no açúcar. Muitas vezes, vendi balaios cheios dessas iguarias simples, mas do gosto de todo o mundo e, além de ganhar um bom dinheiro, ainda me divertia com as trapalhadas dos candidatos menos preparados.
Neste dia, os exames iniciaram às oito horas da manhã e iriam até ao meio dia, com um intervalo para o almoço e recomeçariam às duas horas da tarde.
Eram quase onze e trinta, e já tínhamos aplaudido muitos candidatos que tinham logrado êxito e vaiado outros tantos que tinham rodado na prova da paradinha.
Ouviu-se um murmúrio na platéia, seguido, imediatamente, por um profundo silêncio.
Aproximou-se o último candidato. Num velho Jeep Land Rover, vinha o seu Cristóvão Oliveira de Freitas, que já dirigia, mais ou menos, pelas estradas do interior do Caverá, mas queria tirar a Carteira para ir, quando precisasse, a Santana do Livramento, a Dom Pedrito, ou ao Alegrete.
Vinha bonito, apontando no inicio da rua, longe da lomba, mais ou menos uns cem metros.
Do seu lado direito, o inspetor examinador com olhares muito atento, mas visivelmente aprovadores acompanhava a trajetória do seu Cristóvão.
O silêncio era total. Ouvia-se o barulho do Land Rover e podia-se ouvir o que o inspetor falava.
A platéia atenta, como se adivinhasse que alguma coisa ia acontecer.
Rapidamente, aproximou-se o Land Rover, da fatídica Lombada e da fatal parada. Se o seu Cristóvão conseguisse vencer a prova, receberia os aplausos dos inúmeros assistentes.
Chegada à lombada foi ouvida a ordem do Inspetor: Seu Cristóvão agora o senhor pare, puxe o freio de mão e saia bem de vagarinho.
O seu Cristóvão, parou, puxou o freio de mão, surpreendente e inusitadamente, abriu a porta e saiu, caminhando extremamente de vagar, pé ante pé, em passo de ganso, com suas enormes botas número 45 e suas largas bombachas.
No peito tremulava um lenço branco e na cabeça estava atravancado um chapéu de abas largas.
Era uma figura apoteótica!
O inspetor examinador teve um ataque de tosse, para disfarçar o riso que, por força de profissão não podia dar, mas a platéia, simplesmente, explodiu na maior e mais alta gargalhada coletiva que eu já vi. Tinha gente passando mal, chorando de tanto rir.
O delegado Ary Nelson, colocou o Inspetor no carro e o levou para Delegacia.
Naquele dia, não teve exames, pela parte da tarde…pois não havia clima e nem condições de realizá-los!!!