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Escritores protestam contra acordo ortográfico

Um antigo casarão de Paraty foi palco na manhã de hoje (3) de um protesto contra o acordo assinado entre oito países de língua portuguesa para uniformizar a ortografia. Os autores angolano Ondjaki e brasileiro Marcelino Freire acusaram o acordo de atender a interesses comerciais e chamaram a atenção para o impacto das novas regras para as próximas gerações.

“Eu adotei o acordo para os textos que publico, mas o faço com profundo pesar. Trata-se de uma questão comercial”, disse Freire, autor de Balé ralé.

As reservas de Ondjaki quanto à implantação do acordo recaem sobre a educação infantil. “Como vamos educar, do ponto de vista da grafia, as próximas gerações? Qual é o plano para as crianças?”, questionou o angolano, que publicou Bom dia, camaradas.

Os dois participaram da mesa literária Acordo ortográfico em questão, na Casa da Cultura, dentro da programação oficial da VII Festa Literária Internacional de Paraty (Flip).

Ondjaki queixou-se ainda da falta de uma ampla consulta que referendasse o acordo. “Os países não foram auscultados. Apenas um grupo de pessoas tomou a decisão. Não está claro que a maioria quer as mudanças. A decisão veio de cima. Não pode ser uma decisão política. A língua pertence a todos”, afirmou, acrescentando que, em Angola, a adoção do acordo ortográfico foi “profundamente ignorada”.

O angolano argumentou ainda que uma das características mais marcantes da língua portuguesa é a diversidade. “Não consigo ver a vantagem deste acordo se tanta gente gosta da diversidade”, afirmou. “Não existe lusofonia. Existe a língua portuguesa. Ela sobrepôs o nosso passado histórico. Não ficou na memória que Angola exportou escravos. Não é disso que tratamos.”

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