O que seria do D se não fosse o L – uma parábola do Século XXI –
No Brasil, onde somente carnaval e desordem sempre deram certos, as letras decidiram, após o último Baile da Ilha Fiscal, promover as suas próprias festas profanas. Ergueram-se as passarelas e, com pompas e circunstâncias, sob as luzes dos holofotes tupiniquins, desfilaram e reinaram durante o tempo que, previa e constitucionalmente, se estabelecera.
As primeiras foram DF, FP, PM. Seguiram-se GV e, encerrando o ciclo “aristocrático” das letras duplas, JK. Entenderam as letras, ainda que persistissem resistências, que a modernidade exigia rapidez, mobilização. E isso se efetivou mesmo a partir do desfile e reinado da letra M, que graças ao seu fonema silenciava, com marchinhas ufanistas, o som dos gemidos vindos dos subterrâneos. As letras G, F, S e C deram seguimento ao desfile carnavalesco. O saudosismo irrefreável talvez tenha se abatido sobre as letras FH que dividiram dois reinados entre si.
Cada letra tem seu significado. O L, por exemplo, do fenício lamed, indicava o “aguilhão” para estimular os bois. A letra D vem da letra grega delta que, por sua vez, é idêntica à letra dalet fenícia. O significado dessas letras era “porta”. Por sua vez, o S origina-se do grego sigma, que assimilou os sons sibilantes sin e samek. Esses indicavam os dentes e o pé. E a letra M que, em todas as línguas originadas do latim, inicia a mais doce e suave das palavras: mãe!, origina-se do fenício mem e representa todo o movimento fluido, como, por exemplo, o mar e as suas ondas.
Por isso, ainda está longe o sonho da letra M desfilar na passarela nacional, muito menos a sibilante letra S. Talvez não fosse, ainda, o destino do A das “Alterosas”, primeira letra do alfabeto fenício, alef, que significava “touro”. Porém, o “aguilhão” do L há muito vem estimulando, não mais os bois, mas a “porta” da letra D.
Façamos votos para que ela, em meio a passarela, não se abra, astronomicamente falando, para o Buraco Negro.