Colunistas

República do café com leite

“Porque não és quente nem frio, vometar-te-ei da minha boca.”

Esta citação um tanto quanto estranha encontra-se no livro de Apocalipse da Bíblia. A interpretação usual dada a esta passagem é a de que Deus abomina aquelas pessoas que não se posicionam, aqueles que ficam em cima do muro em relação a sua profissão de fé, ora adotando uma postura pró cristã, ora cambaleando para o lado pagão e discrente das coisas de Deus. Em outras palavras, aquele sujeito morno, sem posição e, consequentemente de personalidade fraca.

Em geral não é só Deus que aparentemente não gosta de coisas mornas. Nós, latinos, também preferimos sempre as coisas mais calientes! Gostamos de ter posição, de discutir sobre futebol, religião e política, temas sabidamente controversos e nunca consensuais. No campo da política por exemplo certa vez tivemos um regime político, que remonta a República Velha a chamada República Café com Leite. Alguém lembra das aulas de história?

Então, vocês não acham uma coisa muito sem graça café com leite? Não é nem café, nem leite! Pois é, e o reflexo disso na política foram anos (de 1898 até 1930) de eleições burocráticas que buscavam atender e acomodar os interesses das oligarquias cafeeiras de São Paulo e do Leite de Minas Gerais, maior pólo eleitoral do país da época. Podemos dizer que durante esses anos até tivemos ordem, agora o progresso…esse ficou para mais tarde. Até que enfim veio um baixinho atrevido (com o perdão da redundância, visto que baixinhos são sempre atrevidos) gaúcho de São Borja que acabou com a mornidão, tomou o poder e, bem ou mal, mudou a história do nosso país. Deixando de lado as preferências, os erros e acertos, o fato é que Getúlio Vargas mexeu com o cenário político brasileiro, dando mais vida e mais intensidade a este, acabando com aquela coisa chata de café com leite.

Mas nessa semana não tivemos nenhum Getúlio em nossa bolsa. E essa ausência de fatores que esquentassem ou esfriassem os ânimos dos investidores fez com que tivéssemos uma semana sem graça, bem morna, água com açúcar, que não empolga nem assusta ninguém.Também pudera, com dois feriados na semana, um nos EUA na segunda-feira (dia do Trabalho) e outro aqui no Brasil na terça-feira (dia da Independência) a liquidez se reduziu e tivemos apenas 3 dias de pregões cheios. Em geral o mercado concentrou as atenções nos EUA e nos dados da economia americana. Por lá as coisas seguem devagar, mornas, evoluindo em doses muito homeopáticas, enquanto o governo Obama tenta através de esteróides e anabolizantes fazer aquela economia andar, voltar a ser a lebre de tempos outroras.

A agenda ficou concentrada no Livro Bege do Federal Reserve, e também na expectativa de um pronunciamento do presidente Obama. O Federal Reserve afirmou que dados econômicos de suas 12 regionais mostraram que a expansão da economia norte-americana continua, embora existam “sinais generalizados de desaceleração em comparação a períodos anteriores”. Ou seja, o Livro Bege não trouxe nenhuma novidade sob a economia que continua crescendo ainda que em ritmo lento. Já Mr.Obama em seu pronunciamento que mais pareceu comício de eleição, anunciou um pacote de incentivos e investimentos em infra-estrutura para os próximos 5 anos, bem ao estilo Keynes. Os mais audaciosos diriam que Obama foi numa linha mais populista (estilo Getúlio), o que em certa medida também não está errado.

Pois é e não teve nada de mais interessante nessa semana. Dados aqui dados ali, mas nada que mexesse de fato com os brios dos investidores. Com isso esperamos para semana que vem uma retomada mais forte, algo mais marcante, algo que alavanque o nosso Ibovespa, que revolucione e acabe com a República do café com leite na bolsa, a ditadura do marasmo!

Comentários

Comentários