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Pote de Ouro

Para falar de mercado essa semana, temos que falar de mercado de câmbio. O princípio da história começa com a crise financeira americana que levou os investidores a crer que o dólar não era mais um porto seguro para investimentos. Logo, o mercado começou a comprar ouro, que não poderia ter o seu valor de forma mais sólida. Aliado a isso, aconteceu também o estouro da crise na Europa.  O medo de calote por parte de alguns dos países acuou os investidores, resultado na queda de 8% do euro frente ao dólar, e levando mais investidores para o ouro.

No entanto, os investimentos especulativos buscam maiores retornos, e as conseqüências são mais investimentos no Real (Brasil), Iene (Japão) e Yuan (China). A maior procura por essas moedas causa a apreciação das mesmas, e cabe a autoridade monetária de cada país escolher a melhor forma de lidar com isso.

Um câmbio valorizado é bom para fazer turismo, para comprar produtos importados e etc, mas para a economia em si, não é tão bom assim. A medida que nossa moeda valoriza, nós aumentamos nosso poder de compra, mas, por outro lado, também tornamos nossos produtos mais caros para os estrangeiros, e é aí que a economia se prejudica: as empresas exportadoras perdem sua competitividade, o que pode impactar profundamente no desempenho econômico de um país.

O Brasil mantém uma política de câmbio flutuante, em que deixa a cotação da moeda oscilar de acordo com os movimentos do mercado. No entanto, quando esses movimentos são muito bruscos, o Banco Central entra equilibrando a oferta/demanda. No curto prazo, o real valorizado não representa um grande risco, mas ainda assim, nosso ministro da fazenda já anunciou que está atento e que deve enxugar qualquer excesso de dólar que entrar no Brasil.

Na China, essa política é um pouco mais rígida. O Yuan não tem espaço para oscilações, o governo do país determina uma cotação e intervém no mercado toda vez que houverem movimentos que tirem o câmbio do preço alvo. Não é para menos que o Yuan é tão desvalorizado em relação ao dólar, e que a china é o maior exportador mundial – quem não tem várias coisas “made in china” em casa? Mas, a questão do momento são as pressões americanas e mundiais para que a China permita a valorização do Yuan, de forma que o gigante asiático reduza a sua hegemonia no comércio internacional.

No Japão, a política era frouxa – ou seja, o Iene oscilava “a la vonté”. Chegou a valorizar mais de 10% nesse ano, refletindo em parte a confiança dos investidores na economia japonesa. No entanto, o Japão, um país pouco dinâmico economicamente, não pode se dar ao luxo de perder competitividade exportadora por causa da apreciação cambial. Logo, nessa semana, o primeiro ministro japonês interveio no câmbio do país, pela primeira vez depois de seis anos, anunciando que não ia continuar permitindo a valorização de seu câmbio. Essa decisão, que foi unilateral, acabou gerando um bafafá. Quando o Japão desvaloriza sua moeda, ele aumenta a competitividade de seus produtos no comércio internacional, e consequentemente, todos os outros países perdem competitividade frente aos produtos japoneses.

O temor de que isso desencadeasse um movimento mais generalizado de desvalorização cambial por parte de outros bancos centrais, levou os investidores a saírem dessa volatilidade do mercado de câmbio e entrar no mercado de commodities, dentre elas, principalmente o ouro. O metal precioso, que é o preferido das mulheres, nessa semana chamou a atenção dos investidores também, de forma que a sua cotação atingiu a máxima dos últimos quinze anos.

Fernanda Camino, economista da XP Investimentos

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