Hiato
A experiência é como se você estivesse dentro de uma espessa nuvem, ou num barco solitário no meio de uma calmaria. Tudo ao seu redor está estagnado, parado, silencioso.
Até seu coração parece que se aquietou e bate em surdina. É que a vida o trouxe por um caminho em que finalmente o deixou sozinho, e sem uma ocupação. Você levanta pela manhã com vontade de ficar deitado, pois tanto faz um ou outro. Sabe que tem um dia pela frente que terá de preencher, mas não tem com que. As asas da solidão rondam sua cabeça, apesar de você não querer se entregar a ela.
A inércia, por não ter uma ocupação, tira-lhe o ímpeto com que sempre enfrentou os mais cansativos desafios. Você foi esquecido pelos seus antigos pares e seus trabalhos, antes tão elogiados, agora ficam despercebidos. Você quer mudar esta situação, mas como? Onde a oportunidade de trabalho para alguém com 64 anos? Onde, da mesma forma, a oportunidade de conseguir um novo amor que lhe de alento para continuar lutando? Uma mudança radical se faz necessária. A saída da cidade, procurando novos portos onde, talvez, se consiga novas chances.
O fato de que será um novo início, num lugar estranho, sem nenhum conhecido é um fantasma que ronda, não pela situação em si, pois já a enfrentou outras vezes, mas pela idade, uma nova aventura com 64 anos.
De qualquer forma a decisão tem de ser tomada e será e fará o coração pulsar mais forte, mistura de arrojo e medo. Se atirar neste novo caminho é não ter a mínima certeza que se dará bem.
A possibilidade de arranjar um emprego pode ser maior, mas assim como a concorrência. Quanto ao amor este será tão imprevisível quanto sempre foi e a possibilidade de arranjar alguém que o acompanhe nesta caminhada é uma loteria, onde os dois corações têm de parar juntos no giro da roleta, para que o companheirismo renasça e o amor, este obscuro sentimento, se faça presente.