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Dona Gelny

Não! Ela não foi uma mulher à frente de seu tempo. Ela viveu, pensou e atuou, sim, em sintonia com o seu tempo presente. Abominava as minorias delirantes e as causas por elas defendidas, pois estas, para ela, não eram ideologias, mas frutos de extremo fundamentalismo. Não foi às praças para queimar em público o sutiã – símbolo do movimento feminista –, embora, aos 17 anos, orgulhosa, exibia os versos e as gentis palavras eternizadas em seu Livro de Poesias (rica encadernação em capa dura, muito em voga pelas adolescentes dos anos quarenta) dedicados por Mário Quintana e Erico Verissimo, seus colegas de trabalho na Livraria do Globo. Não se valeu dos movimentos “anti”: sempre respeitara o tabagismo do Theophilo, seu marido. Aos veganos (argh!) ensinaria ficassem na sua e respeitassem sua predileção ao filé de linguado com molho branco e alcaparras, ou camarão à grega, regados por generoso Sauvignon Blanc. E para a pedalante “Massa Crítica”, além de umas boas chineladas, ela diria, galhofeira, que nada mais era do que “massa para pão mal sovada”.

Estrategista, ela soube protelar os pedidos do esposo, a cada filho que nascia, para que parasse de trabalhar. Aposentou-se, após 32 anos de serviço, na Rede Ferroviária Federal.

Determinada, era rodeada por “três homens carentes e dependentes da força da mulher”. Ela teria sido a grande mestra dos ministros do Planejamento tupi-guarani. Controlava cerca de quase 50 envelopes azuis identificados: “rancho semanal”, “rancho mensal”, “carne”, “leite”, “pão”, “hortifrutigranjeiros”, “luz”, “condomínio”, “empregada”, “faxineira”, “gasolina”. O mais incrível: cada envelope com os valores previamente descritos! Cláudio Antônio – um dos filhos – fez ótima escola nesta “Pasta”.

A perda precoce do marido e o amor que ambos nutriam teria ruído a fortaleza, não fosse a chegada de seus primeiros netos, Angelo e Theozinho (Theophilo). Bem mais tarde, veio Nicole. Maria Helena e Guiomar – as noras, e cada qual com sua personalidade – foram as suas “rivais” afetivas.

A vida de Dona Gelny Agra não poderia ser diferente aos seus preceitos: “Faço o que gosto, pois não “como nas orelhas” de ninguém!”. O que ela, realmente, sempre fez!

Minha mãe decidiu preparar a festa dos 88 anos, em 11 de junho, retornando à Pátria Espiritual na sexta-feira, 10.

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