O olho do abutre
Isso feito, não se lhe apresentaram óbices em financiar alguns milhares de cruzeiros – afinal, o Milagre Econômico, idealizado pelo então Ministro da Fazenda, Delfim Netto, resultara em que as políticas fiscais e creditícias expansionistas servissem para alavancar a demanda, com maior liberdade para investimentos. Com a nova política de créditos, houve maior facilidade para as pessoas físicas e jurídicas contraírem empréstimos, tanto para o financiamento de bens de consumo duráveis (PF), quanto para investimentos produtivos (PJ) – e adquirir casarões em ruína total, ou terrenos praticamente abandonados, que se prestavam apenas como depósito de lixo na região central da Capital.
Ergueram-se os primeiros arranha-céus exclusivos para estacionamento de automóveis. A contratação de mão de obra (manobristas, gerente de tráfego), de pouca ou quase nenhuma qualificação e/ou instrução, as obrigações fiscais, tributárias, previdenciárias e trabalhistas daí decorrentes, e as despesas de conservação do imóvel – comparadas aos resultados financeiros que lhe adviriam – se mostraram ínfimas.
Desfigurava-se a fotografia arquitetônica de Porto Alegre: os estacionamentos verticais – autênticas masmorras, poluentes visuais, flagrantemente despidos da mínima preocupação em minimizar os deprimentes efeitos da “selva de pedra” –, como solução urgente e emergente, proliferaram.
O natural crescimento demográfico de Porto Alegre, a gradual abertura e acessibilidade ao financiamento a longo prazo para a aquisição de carros zero quilômetro pelas classes econômicas menos favorecidas geraram não apenas o caos do tráfego no gargalo em que se transfiguraram as artérias situadas entre as Avenidas Mauá, Edvaldo Pereira Paiva, Ipiranga e Ramiro Barcelos, sobretudo a supervalorização da hora/estacionamento dessas garagens.
Se na contrapartida do lucro, resultado natural de qualquer atividade empresarial – ainda que, no caso em discussão, exorbitante – resultasse na certeza de segurança do patrimônio de seus clientes e na contribuição de uma cidade visualmente menos agressiva, mais bonita e cuidada, enfim, os meios estariam justificando plenamente os fins.
A Secretaria Municipal de Obras e Viação há de exigir de seus agentes fiscalizadores atenção redobrada, sobretudo no item segurança, haja vista – apenas para exemplificar – o estado físico da fachada do estacionamento localizado na Avenida Independência, fronteiro ao Edifício Santa Tecla r nsd ptoximidades do Hospital São Francisco: é de arrepiar!