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Filho feio não tem pai

Diz o dito popular que filho feio não tem pai!

Pois bem, estava eu aqui pensando quem seria o responsável pela repentina queda que a Bovespa sofreu esta semana e confesso: não achei algum agente, país ou banco para usar como Cristo. Ainda que a análise de retrovisor (do que se passou) seja sempre mais fácil, existe uma dificuldade em identificar os condicionantes de uma queda de quase 10% em uma única semana.

Decolamos da casa dos 58 mil pontos e viemos parar nos 53 mil sem escalas. Para você, que não está bem certo da gravidade disso, estamos falando que as principais empresas listadas em bolsa, aquelas que compõem o índice, apresentaram uma perda de valor de, aproximadamente, R$ 150 bilhões, dado a queda nas cotações de suas ações. De fato, em se tratando de mercado financeiro, as cifras são sempre exageradas.

Mas quem é o responsável? Quem é o pai dessa criança? O Sr. Mercado? Muitos gostam de tratar o mercado como um agente que possui vontade e desejo próprios e que toma decisões de acordo com o seu humor. A questão é que o mercado nada mais é que uma composição socioeconômica, um arranjo resultante da interação de seres humanos. Seres com suas vontades, desejos mas, sobretudo, percepções e compreensões de mundo.

Nesta semana, essas percepções caminharam no sentido das vendas, da fuga e aversão ao risco. Como disse, não houve um fato que tenha atuado como gatilho para que iniciássemos o mês de agosto de tal forma. Um pouco mais do mesmo. Novamente, os receios quanto à situação fiscal e de dívida norte-americana, que suscitam dúvidas e levantam a questão de um possível calote americano. A trágica situação da dívida europeia que afeta um país a cada dia. A economia japonesa que há tempo parou de crescer e essa semana teve que lidar com mais um terremoto.

O que parece ocorrer é uma ruptura do sistema vigente. Estamos passando por uma fase de transição, algo como a puberdade, com seus conflitos, dúvidas e inseguranças. A expressão “países desenvolvidos e ricos do hemisfério norte” já não serve mais. Hoje existem países desenvolvidos no hemisfério norte, mas se encontram endividados e sem poder de compra.

Isso trava a economia como um todo. Saímos da guerra fria com um pai: os EUA. O problema é que o pai já não demonstra o vigor de outrora.

O que temos visto no mercado é uma espécie de crise pela falta de um pai. Antigamente, em qualquer momento de aversão, todos os investidores corriam e compravam dólar. Hoje o dólar não representa uma reserva de  valor, dado os receios com a nação, mãe da moeda. Os títulos de dívida norte-americanos, outrora considerados livres de risco, também não refletem isso. O Euro suscita dúvidas.

Por isso, temos visto a escalada do preço do ouro (eterno item representativo de valor) e, mais recentemente, o Franco suíço, dado a fama do pequeno país dos Alpes em representar segurança ao patrimônio.

Os agentes de mercado parecem preocupados com tal ruptura. Será a China a potência de nova liderança mundial? Ou essa nova ordem mundial terá um controle difuso entre os emergentes? Ou ainda, de forma mais genérica, algo dividido entre emergentes e desenvolvidos? As dúvidas pairam no ar e o mercado reage a tais incertezas. Na falta de pai, bate na criança que não tem problema!

A questão é que, em bolsa, os exageros abrem oportunidades únicas! Os mesmos R$ 150 bilhões de perda de valor de mercado podem ser rapidamente recuperados e você pode, inclusive, beneficiar-se disso! Nesse cenário econômico desafiador, o Brasil deverá apresentar a 6ª maior expansão do PIB do mundo em 2011, ficando atrás apenas de outros emergentes mais atrasados em termos de desenvolvimento, como China e Índia. Isso significa que, de alguma forma, as grandes empresas brasileiras continuam a crescer. Sendo verdade, não faz sentido suas ações se desvalorizarem mais do que a média dos demais mercados mundiais. Mais do que nunca, é bom ficar de orelha em pé porque grandes oportunidades parecem surgir novamente.

William Castro Alves
Analista da XP Investimentos

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