Colunistas

Cortando Lenha

Neste inverno mantive a casa aquecida usando fogão à lenha. Grande parte desta lenha recolhi dos caixotes, com sobra e recortes, que a madeireira AJUDOU colocar a disposição de quem passa pela Paraguassú.

Alguns barrotes e ripas, imprestáveis para a produção, são grandes, o que  me obriga a cortá-los com o machado. Enquanto meus braços trabalham, minha mente viaja no tempo e me encontro, de novo, aos 14 anos na lenharia do seu Ataides Aquino, em Rosário do Sul,cortando lenha.

Cortar lenha foi uma das minhas múltiplas profissões. E nesta viagem, meteórica, me pergunto aonde andarão o meus companheiros? O Zépelin, o Cabano, o Oswaldo loco, o Camundongo,e o seu Antônio,o velho que, mesmo aos 60 anos, ao final do dia produzia o triplo que nós e quando seu Ataides contava o seu monte achava, sempre, mais que 1.500 hastilhas. Somente anos depois, descobri o segredo do seu Antônio. Enquanto nós cortávamos lenha conversando e contando piadas o seu Antônio trabalhava em silêncio. O máximo que se permitia de interação com os demais, era um sorriso no canto da boca e um olhar de soslaio.

O Seu Antônio trabalhava focado no seu mistér. Acho que não pensava em nada.O seu Antônio não sabia ler nem escrever mas tinha obtido seu diploma no Livro da Vida.

Entre o subir e o descer do machado, sobre a tora de eucalipto ou de aroeira  a se desmanchar no cepo,com  eficiência e precisão e em profundo silencio ele nos transmitia as lições que nós não pedíamos e que, somente muitos anos mais tarde, conseguimos entender e delas nos beneficiar. Minha saudade e minha homenagem aos mestres que encontrei em minha caminhada que silenciosamente me deram lições que me permitiram navegar nos turbulentos mares da vida, nunca me vangloriando do quem sou  e, jamais, me esquecendo  de quem fui…

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