Sinais de Fumaça
Sem qualquer comprometimento por parte deste colunista a não ser a fidelidade aos fatos históricos, não há como deixar de dizer que a Brigada Militar é uma entidade que prestou e presta serviços de relevância para a manutenção da ordem e para o cumprimento das leis em nosso estado e que por isto é merecedora da consideração e do respeito à sua dignidade e a sua história.
Respeito e consideração que lhe presta a comunidade rio-grandense, mas, paradoxalmente, o poder executivo que representa esta comunidade tem, nos últimos governos ,relegado a Instituição a um lugar de menor importância. Explico a minha razão em dizer isto:
O Estado relega a um lugar de menor importância quando o pagamento de salários miseráveis leva quem os recebe a morar em vilas periféricas onde os aluguéis são compatíveis suas rendas embora que, para isto, tenha que conviver muito próximo ao crime que tem, por dever, combater!
Quando obriga quem recebe estes salários miseráveis a fazer os famosos “bicos” em boates e bares noturnos para poder levar para casa, ao final da noite, alguns “pilas” no bolso e um corpo cansado e, às vezes, como fome! Quando quem recebe estes salários miseráveis não consegue comprar roupas para sua família e posterga, sempre, a boneca que os olhares da filha pede e a bola de futebol, que o filho sonha.
Quando o café da manhã, de quem recebe estes salários miseráveis, é sem leite e o almoço e a janta só tem feijão e arroz, esperando algum extra para comprar uma pelanca ou no máximo uma carne de segunda, para dar um gosto no feijão.
Quando obrigam a quem recebe estes salários miseráveis a trabalhar, em dia de sol, ou em dia de chuva, debaixo dos mormaços e da invernias, postando coletes a prova de bala, que já não protegem mais e revólveres cuja munição já tem prazo de validade vencidos.
Quando os veículos que utilizam em seus trabalhos, pelos quais recebem estes salários miseráveis, rodam sem estepe, com sinaleiras queimadas e sempre, com pouca gasolina…
Quando a farda vira roupa de domingo, porque quem recebe estes salários miseráveis, não tem dinheiro para comprar uma fatiota ou uma roupa esporte civil para ir a um aniversário de familiares ou a uma festa na escola do bairro miserável onde seus filhos estudam.
Quando, quem recebe estes salários miseráveis, não consegue ter sua voz ouvida pelas autoridades responsáveis por suas misérias e por suas péssimas condições de vida.
Autoridades estas que vivem no conforto e na fruição dos prazeres que os altos salários lhes conferem e que são insensíveis as angustias e as dores dos miseráveis praças, cabos, sargentos e até parte da oficialidade, que não conseguem viver mais com os vergonhosos soldos que o estado lhes paga, em troca da fidelidade e da segurança que lhe é garantida. Muitas vezes, com o custo da própria vida destes explorados integrantes da Brigada Militar. E assim relegados a um plano inferior continuam na sua faina de prestar serviço , de serem guardas costas de seus algozes e fazem isto, por juramento prestado, por honestidade e acima de tudo por respeito a disciplina e a ordem.
Relega a segundo plano, finalmente, quando nega o mínimo necessário para uma vida digna aos componentes da Briga Militar e, paradoxalmente, cria quase duas centenas de cargos de confiança com salários superiores a integrantes graduados da Instituição, sem que isto cause qualquer problema financeiro para o tesouro do estado ou esteja em desacordo com as previsões orçamentárias.
Hoje, dia 16 de setembro, ouviu-se pela mídia que o governo, finalmente, fez uma proposta para os integrantes da Brigada Militar. O Rio grande do Sul, pela sua tradição de justiça e equidade espera, com toda a certeza, que a proposta feita esteja de acordo com a dignidade, com o merecimento e com o respeito que são devidos aos integrantes da Corporação que enaltece o Estado e se encontra no coração de cada um dos gaúchos, como símbolo de honradez e bons serviços.
Se não estiver de acordo, que as barreiras de pneus em chamas continuem emitindo sinais de fumaça que levam com eles as noticias da insensatez e do descaso que caracteriza o poder executivo de nosso Estado.