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Soluço e o presente grego

Hic, hic, hic, hic.

De repente, vem algum sujeito e assusta você para que o soluço vá embora. E não é que consegue! Não te parece muito inusitado que a cura para o soluço possa ser um belo susto? Não sei qual foi o gênio que teve a percepção de assustar uma pessoa que estivesse com soluço mas o fato é que funciona. Na verdade, várias são as possíveis soluções para essa coisa chata chamada soluço. Elas vão desde a simples ingestão de água ou de trancar a respiração por alguns segundos, até coisas mais bizarras, como ingerir meio copo de leite sem açúcar, dobrar as pernas sobre o abdômen, forçar um arroto ou mesmo um baita susto. Na verdade, todas as soluções visam a interrupção do ciclo respiratório segurando por alguns segundos a respiração. Esta é a real solução.

Mas você já parou para se perguntar por que ele surge? Na verdade, ele resulta de um estímulo involuntário de músculos relacionados com a respiração, principalmente o diafragma, levando a inspiração rápida e curta, não sincronizada com o ciclo respiratório.  Como que eu sei disso? Pesquisando, ora bolas! Tudo isso porque nessa semana o mercado tomou um susto e tanto, digno de curar o soluço de qualquer investidor.

Voltando um pouco no tempo, na semana passada o mercado se esbaldou em comemorações. Mas havia motivo: a comemoração de alguma definição por parte das autoridades europeias sobre como proceder com seu primo pobre grego. Pois é, vimos altas generalizadas, algo como involuntário e não sincronizado com o real momento macroeconômico que vivemos, que aponta para uma recessão na Europa e estagnação em EUA e Japão. Até que começamos a triste semana de feriado em homenagem aos finados.

O mercado começou a semana voltando-se para a análise mais detalhada do pacote anunciado, tentando estimar até que ponto este poderia trazer uma solução mais duradoura e completa para a situação europeia. Muitas ainda são as dúvidas.

Os europeus “passarão o chapéu” tentando angariar fundos de agentes líquidos ao redor do globo para engordar seu fundo de estabilização? Outra dúvida reside nas situações de dívidas de outros países como Itália, Portugal, Irlanda. Como promover o crescimento que é vital para solvência de longo prazo? Enfim, muitas dúvidas, mas uma certeza: de que a situação grega estava resolvida.

Só esqueceram de combinar tudo com os primos pobres gregos! Quem disse que eles não têm vontade própria?! Eles ainda têm um país com sua soberania. Parece que o primeiro ministro grego George Papandreou encarnou o espírito argentino do “devo não nego, pago quando puder”, ou seria “devo não pago, nego enquanto puder”? Enfim, o fato é que Papandreou deu um presente de grego para o mercado com a ideia da realização de um referendo para consultar o que os cidadãos gregos estavam achando de tudo que estava sendo decidido. Absurdo?

O fato é que, para os gregos, existem 2 opções, ambas horrorosas. A primeira é seguir a cartilha da comunidade europeia e aceitar sua ajuda e o pacote, com os devidos cortes de orçamento, aperto de contas, etc. A segunda parece um caminho mais curto e fez sucesso, anos atrás, com nossos vizinhos hermanos do sul.

Dar o calote na dívida, romper com o Euro, voltar a utilizar o Dracma (moeda grega) mantendo-o sobremaneira desvalorizado como forma de fomentar o que resta de sua indústria e do seu turismo para gerar superávits comerciais, além de se utilizar do poder de emissão de moeda como forma de financiar a gastança pública. O resultado de ambos será bem dolorido mas, a meu ver, existe aí uma diferença que reside na questão da credibilidade que é algo que custa caro, pois demanda nosso bem mais precioso, o tempo!

Parece que o receituário argentino não fez muito sucesso e rapidinho a idéia de um referendo absurdo foi posta de lado. Passado o susto, o mercado se curou de seu soluço e passou a embutir nos preços dos ativos as incertezas que ainda pairam no ar. A aparente desistência de tal referendo trouxe de volta o otimismo no mercado e quem sabe voltemos a seguir essa tendência de alta de mais curto prazo na semana que vem.

William Castro Alves, CNPI 896

Analista XP Investimentos

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