Colunistas

A ausência de quem amamos

“Ya somos el olvido que seremos./ El polvo elemental que nos ignora/ y que fue el rojo Adán, y que es ahora,/ todos los hombres, y que no veremos”. – Jorge Luis Borges

“Vô” “Vothi”, “Vó” Celina, pai, mãe, tios Valnyr, “Nando” e “Cota” foram as personagens das minhas três primeiras comemorações ao Natal.

Primogênito e, por consequência, primeiro neto e sobrinho, estes familiares tão amados só não me repousaram sobre uma manjedoura porque sempre tiveram a sensatez de reconhecer que o Convidado Maior sempre seria Ele.

A partir dali, um a um, nem sempre com mansidão e suavidade, eles foram me dizendo um Até breve! “Vó” Celina, Vô “Vothi”, meu pai, os tios, meus sogros, Madalena e Lúcio e, neste junho, o último daqueles meus “caquinhos”, “Dona” Gelny, minha mãe.
Por essas remembranças quedei-me triste, melancólico. Aliás, de alguns dias para cá, ando assim, não só ante a releitura do biográfico e, no entanto, perverso A ausência que seremos (do escritor colombiano, Héctor Abad, filho do médico sanitarista colombiano Héctor Abad Gómez (1921-87), defensor de causas sociais e dos direitos humanos executado pelos esquadrões da morte que golpearam seu país nos anos 1980), sobretudo com a proximidade desta que sempre será a festa primeira em família, o Natal.

Os poetas, permitimo-nos viajar ao universo da tristeza, sobretudo agora, em que nos aproximamos do Natal. Esta é, sem dúvida alguma, como com muito oportunismo nos diz o psicanalista gaúcho Abrão Slavutzky, uma época que demanda alguns cuidados especiais, pois traz consigo antigas questões: onde e com quem passar o Natal e o Reveillon? É o mês no qual os deprimidos sofrem mais, a tristeza cresce com o sentimento de solidão e a recordação de amores perdidos. Há mais melancólicos e tristes que alegres no mundo, mas são estes últimos (os alegres) que puxam a humanidade. Não sei dizer bem para onde. Os deprimidos dizem que para o fundo do abismo, já os otimistas estão confiantes de que seja para um mundo melhor.

Quem está com a razão? Ambos os grupos, mas com um bom desconto, é claro. Muitas vezes estas personalidades tão diferentes se casam e conseguem diminuir seus excessos.

O otimista tem dificuldade em aceitar o princípio da realidade. Ele é ingênuo ao esperar o impossível e depois fica frustrado até passar o desânimo e em seguida torna a pensar na vida como uma bela e emocionante aventura. O pessimista, por sua vez, tem resistência às ações entusiásticas, dramatiza seu cotidiano, transforma o infortúnio comum num sofrimento neurótico.
O mais difícil num final de ano, muitas vezes, são as perdas dos familiares ou de amigos que estarão ausentes nas festas. Nosso primeiro e grande referencial dos festejos natalinos é exatamente o grupo familiar: avós, pais, irmãos, tios, primos. A lei natural da vida, no entanto, impõe a partida de alguns, e aquelas referências, então, se diluem e restam, apenas, saudades.

Se este ano que ora se encaminha para o seu final foi bom você está de parabéns. Caso contrário, não se esqueça, poderia ter sido bem pior.

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