Professor Galeno Vellinho de Lacerda
Perto de desistir, socorreu-se como última esperança do amigo e colega de turma, doutor Galeno Lacerda, que abraçou a causa poucos dias antes do prazo fatal para interposição do recurso.
Certo dia tocou o telefone lá de casa. Do outro lado era o doutor Galeno noticiando que o processo havia sido julgado, acompanhado por ele, inclusive da tribuna. E o resultado não poderia ser outro: com grande habilidade havia revertido uma causa praticamente perdida.
Muitos anos depois, tive a ventura de me aproximar do professor Galeno. Na primeira vez que estive em seu escritório, ele me mostrou sua biblioteca repleta de livros e obras raras; e fez questão de me mostrar, também, um enorme e belo guapuruvu que havia no terreno ao lado, que se via da janela do seu gabinete. “Enquanto eu estiver aqui – disse-me – ninguém toca nessa árvore”.
Depois, lembrou o processo do meu pai, admitindo que foi um dos casos que mais lhe deu alegria profissional, principalmente pela amizade e afeto que nutria por meu pai. Recordou que a questão quando lhe chegou às mãos era muito delicada – por puro desmazelo do advogado que iniciou o processo –, e poucas seriam as chances de que o recurso subisse. E foi logo à procura de jurisprudência que pudesse servir ao seu apelo e à tese que defenderia, em luta implacável também contra o tempo.
O recurso – pude lê-lo – é uma peça magistral, caprichosamente redigida, onde o professor demonstra todo seu conhecimento de renomado processualista. E trabalhou gratuitamente.
Certa vez, contou-me que a sua grande vocação não era advogar, nem o exercício da magistratura, mas lecionar, e que havia interrompido a cátedra, pois era impossível exercê-la durante a ditadura militar. Entre o cerceio dos seus ensinamentos, vendo colegas perseguidos, optou pela aposentadoria.
Agora, também o mundo jurídico está de luto com o seu falecimento, ocorrido há poucos dias. O Rio Grande e o Brasil perderam um dos seus maiores juristas; e o enorme guapuruvu, o seu atento Anjo da Guarda.