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A vaia

Da ditadura militar o general Médici foi o presidente mais perverso. Não que os outros  não tenham sido também. Mas Médici foi o pior. Cassou, prendeu, torturou, matou e arrochou salários como nenhum dos outros quatro déspotas. Foi também no governo Médici onde a propaganda do governo mais se exacerbou. Mensagens como “Ninguém Mais Segura Este País”, “Brasil Ame-o ou Deixe-o”, “Pra Frente Brasil”, eram divulgadas diariamente pela propaganda oficial.

E o ditador se deliciava também com construção da Transamazônica, com a Ponte Rio-Niterói e o futebol. Talvez por conta da propaganda – ou quem sabe mesmo porque era popular – Médici sempre que podia ia ao Maracanã, com o seu indefectível radinho de pilha colado junto ao ouvido. A cada ida ao estádio, pelos autos-falantes, o cerimonial anunciava ao público a chegada de sua excelência. E nunca se soube – e a história jamais resgatou – que o ditador tenha sido vaiado. Medo do público à figura indigesta? Com todo o poder que dispunha o facínora de Bagé, se houvesse apupo à sua figura no estádio, jamais poderia encarcerar e torturar oitenta ou noventa mil vozes.

Lula da Silva, ao contrário, com toda a popularidade que as pesquisas dizem que tem, quando da abertura do Pan-Americano, em 2007, sofreu estridente vaia a ponto de lépido e à socapa fugir do estádio.

Pois no sábado não foi diferente com a senhora presidente da República. Ao iniciar a abertura oficial da Copa das Confederações a vaia eclodiu estrondosamente contra ela através de sessenta mil almas. A senhora mandatária, certamente, não esperava a recepção provocante. A princípio assumiu um ar de desdém; depois, visivelmente, demonstrou contrariedade e constrangimento ao som que vinha da arquibancada; e, meio sem saber o quê fazer, espichou o olhar para um papel que estava nas mãos de Joseph Blatter. Por fim, voltou ao seu estado normal retomando o semblante arrogante e autoritário, como se estivesse a despachar em gabinete com os seus estafetas a erguer a cabeça altivamente desafiando a vaia insistente (certamente pensou: ah, se eu tivesse uma metralhadora como nos velhos tempos…). A contragosto cumpriu o protocolo de abertura da Copa e não se viu mais a sua triste figura no estádio.

Confesso que senti certa comiseração da madame que nos governa, pois o seu ar imperial pela voz do povo em poucos segundos desfez em fragmentos. Mas o meu sentimento maior foi de vergonha pela governante pagar um mico de incomensurável rebaixamento aos olhos de bilhões de pessoas pelo mundo afora.

Da próxima vez, senhora Presidente – pois logo no ano que vem há uma eleição a lhe esperar –, peça ao Inácio da Silva que vá em seu lugar. Afinal, ele já está acostumado…

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