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Socorro! Salvem-me da marola caponense!

Meu pai, quando jovem, terminado o expediente bancário dos sábados, partia da Rua das Flores, em direção à íngreme subida da Rua Clara, cruzava a Duque de Caxias, descia a antiga escadaria em arcos para, finalmente, alcançar a Rua do Arvoredo, onde morava a namorada, minha mãe. Saíam, dando asas aos sonhos, para o footing na Rua da Praia. Retornavam pela Rua da Ladeira, sentavam-se sob as frondosas árvores da Praça da Matriz e, enlevados, assistiam aos concertos da Orquestra Sinfônica no Auditório Araújo Vianna. À noite, o jovem enamorado recolhia-se para o quarto de pensão, na Rua do Rosário.

À exceção de Rua da Praia, ninguém mais ouviu o idílico nome das ruas Flores, Clara, Arvoredo ou Rosário. Homenagearam-se os vultos que fizeram sobretudo a história político-militar do país e do Rio Grande: Siqueira Campos, Andradas, General João Manoel, Coronel Fernando Machado, Praça Senador Florêncio, Marechal Floriano e tantas outras patentes milicianas.

Porto Alegre não passava, à época, de uma pequena e provinciana capital que alargaria suas fronteiras urbanas e, sem ferir suscetibilidades dos heroicos personagens, aprovaria seus nomes nas novas ruas, praças e avenidas que rasgariam mais tarde o mapa dessa cidade. Assim, Flores, Clara, Arvoredo, Rosário e tantas outras não mereciam ser jogadas no baú do ostracismo.

Saltemos no tempo e no espaço: Capão da Canoa. Rua Pindorama, onde há oito anos a Feira do Livro, democraticamente dividiu o seu charme e o espaço com os bares e restaurantes adjacentes, viu, da madrugada para o amanhecer, sequestrado pelo estreitamento da via aquele lugar que, por apenas nove dias no ano, coloria com suas bancas e livros. O autor da infeliz “obra”? Já perguntei. Resposta? Para mim, ao menos, nenhuma! Mas suspeito de quem tenha sido.

Pois eis que, de forma peremptória, categórica, decisiva, definitiva e despótica, foi parida – sem qualquer consulta popular!!! – mais uma infeliz ideia: mudar a imagem gráfica (a bela e anônima mulher sob um colorido guarda-sol, somente com as pernas expostas à luz do sol) que identifica Capão da Canoa para os visitantes.
Assim, na anencéfala e pretensiosa imagem (que já foi estampada numa pasta de cartolina, dessas que abrigam caneta e bloco para anotações em seminários ou palestras), insurge-se, à direita da pretendida imagem, em que pese o sol, uma onda ameaçadora e de grandes proporções – lembrando desvairado tsunami – prestes a atingir campos, mata nativa e lagoas.

A exemplo do alargamento das calçadas da Rua Pindorama, desconheço o(a) autor(a) da “obra”. Mas imagino (o que não é pecado!, viu?), quem possa ser a “figurinha”.
A afogar-me nas águas do mar(rom) e ter um fim trágico e solitário, prefiro, mil vezes, aquele sob o colorido guarda-sol que permite tão somente mostrar as pernas da bela banhista a afagar-me os cabelos quando do meu último alento.

Doce, mesmo, é morrer na sombra, e muito mais no colo de uma mulher……

Socorro! Salvem-me da marola caponense!

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