Tudo como dantes no quartel de Abrantes
Bem, tudo foi apenas um surto psicótico dos brasileiros. Surto este que o STF tratou de erradicar ao aceitar, após quase sessenta sessões e seis anos de tramitação, os embargos infringentes impetrados pelos chefões da quadrilha do mensalão, aceite este que protelará, sabe-se lá até quando, o final do julgamento da Ação Penal 470.
Com a nomeação de mais dois fiéis sabujos para reforçar a matilha, o PT, agora, também garante o aparelhamento do Superior Tribunal Federal, última instituição republicana que ainda se mantinha independente do Palácio do Planalto. Ganha o PT, perde o Brasil (com perdão da redundância). Todos os regimes autoritários latino-americanos só se consolidaram no poder quando passaram a dominar suas respectivas cortes supremas. Estamos testemunhando a melancólica derrocada da pueril democracia brasileira, enquanto que, por caminhos tortuosos, ascende o “socialismo do século XXI”. Afinal, fora para este fim que lutaram os ditos “heróis libertários”, os mesmos que hoje se refestelam no poder à custa do erário público.
Está tudo restabelecido! A escória política e a “esquerda caviar” podem respirar aliviadas. A monumental inversão de valores éticos que fazem do Brasil uma legítima Republiqueta de Banana, está mais forte do que nunca.
A garantia à ampla defesa tornou-se um instrumento de proteção dos que se infiltram na máquina do Estado para surrupiá-la. A miríade de recursos à disposição, só beneficia aos políticos larápios, ricos e poderosos, conferindo-lhes a certeza da impunidade, se não pela sentença judicial, pela prescrição da pena.
O inominável Zé Dirceu não só irá livrar-se do cárcere, como será premiado com um documentário, assinado pela “isentíssima” diretora e amiga Tata Amaral. O filme custará mais de um milhão e meio de reais a serem pagos por nós. Sim, vocês entenderam direito! Dinheiro público de renúncia fiscal, captado através da Lei Rouanet, patrocinará esta patuscada em homenagem a uma das mais ignominiosas figuras da história recente do Brasil. Provavelmente Dirceu assistirá a avant première a bordo de um jatinho, certamente cedido ao ilustre personagem por algum desinteressado empreiteiro amigo do partido.
É mais que pilhéria, estamos para os criminosos assim como as estátuas estão para os pombos!
Não cabe a mim (não faço parte do meio) discutir aqui se os argumentos do Ministro Marco Aurélio foram judicialmente mais embasados do que os do Ministro Celso de Mello, ou se os do Ministro Joaquim Barbosa melhores do que os do Barroso. Jornalistas especializados e juristas já o fizeram à exaustão. Qualquer que fosse a decisão, teria justificativa legal. Mas eu, como 99% da população, quero saber: quem vai segurar essa quadrilha, que tomou para si o Estado, agora que lhes chancelaram transgredir as leis?
Parafraseando o filósofo esportivo Sílvio Luiz: “Pelo amor dos meus filhinhos! O que é que eu vou dizer lá em casa?”.
Pouco tempo depois da dosimetria das penas (aquela de mentirinha), comentei com um jardineiro amigo meu que finalmente veríamos esses safados na cadeia. Pois ele nem ao menos parou de cortar a grama ao me responder: “não vão presos p… nenhuma não! Cadeia é só prá gente “ki” nem “nóis”!”.
Como contesta-lo? Cadeia parece ser só mesmo para pretos e pobres (em breve, também para opositores do governo). Este estigma o país ainda terá de carregar por muito tempo. Continuamos, pois, a ser o país do samba, do futebol, das bundas, da impunidade e da discrepância.
Mais uma vez o trem passou, mais uma vez estávamos na estação, mas como sempre, não embarcamos. Perdemos novamente uma preciosa oportunidade de moralizar o Brasil, de amadurecer nossa infantil democracia, fortalecer nossas frágeis instituições, mas, acima de tudo, de resgatar o orgulho, a muito perdido, de ser brasileiro.
O trágico desfecho, maquiavelicamente arquitetado, de mais este infame capítulo da história nacional pode ser ilustrado pela lapidar frase que proferiu o Ministro Marco Aurélio Mello na última quinta-feira, 12, ao citar um trecho do romance “O inverno da nossa desesperança”, de John Steinbeck:
“QUANDO UMA LUZ SE APAGA, É MUITO MAIS ESCURO DO QUE SE ELA JAMAIS HOUVESSE BRILHADO”.