Colunistas

Eu teria dito

Passamos o último fim de semana em Porto Alegre, minha Pasárgada cultural, pois lá…

… sou amigo das livrarias,
dos cinemas, das galerias.
“Derrubo” das estantes que vejo
os títulos que cotejo.
Liberto-me, transportado
nas asas de O Tempo e o Vento.
Miro com intensa paixão
os quadros em exposição.
É onde, sempre nos espera o leito perfumado.

Minha “Pasárgada”, no entanto, é vulnerável aos invasores. Desta feita, um nerd “aerotransportado” sentou-se ao nosso lado e – pasmem! – em plena projeção do filme da obra máxima do nosso imortal Érico Verissimo, pôs-se a teclar o seu Smatphone. O que fazia o babaca ali?

Lembrando-me dessas e outras, como gostaria de ter sido o autor da crônica O Brasileiro Classe Média. No entanto, essa delícia de texto, que tomo como empréstimo, é da lavra da jornalista Carol Bensimon. Ei-lo:

“O brasileiro classe média, ano-base 2013, tem um pet. Não um gato, não um cachorro. Um pet. O brasileiro classe média puxa conversa sobre o pet com donos de outros pets: “Dois dão o mesmo trabalho que um. Só gasto mais em ração”. Esse é um momento importante na vida do brasileiro classe média, pois pressupõe uma interação social que se desenvolve na calçada, ainda que estimulada pelas necessidades fisiológicas do pet. O brasileiro classe média quase nunca é visto na calçada, salvo quando entra e sai de seu carro.

O brasileiro classe média vai para a academia de carro. O brasileiro classe média tem um carro com insulfilme, “dá mais segurança, não se consegue ver direito quem tá dentro”, pois bandidos costumam roubar carros com uma pessoa, mas não com duas, preferem carecas aos homens de bigode, e jamais se meteriam com alguém vestindo uma camisa havaiana. O brasileiro classe média pode ter um rosário pendurado no retrovisor do carro, mas ninguém lá do Céu emitiu uma opinião muito clara sobre ser errado usar a vaga do deficiente físico quando se está com pressa e parece muito complicado encontrar lugares nessa droga de estacionamento. O brasileiro classe média fura o sinal no domingo à tarde porque “não tá vindo ninguém”.

O brasileiro classe média acredita em bairro planejado, brigadeiro gourmet e bufê-de-saladas-pratos-quentes-sushi-churrasco-ilha-de-massas-por-R$ 42,90. O brasileiro classe média nunca nega os caramelos e amendoins que a companhia aérea lhe oferece. Durante o voo, o brasileiro classe média não lê, dorme. Em solo estrangeiro, será reconhecido menos pelos maus modos do que pelos ostentosos e deslocados tênis de corrida, os quais, a seus olhos de brasileiro classe média, parecem adequados para qualquer ocasião.

O brasileiro classe média não faz, compra pronto. O brasileiro classe média não recebe em casa, mas no salão de festas do condomínio. A mulher brasileira classe média tem cabelo longo, liso e loiro. Ela é casada com o cara que gosta muito de camisas de times de polo e se acha 20 anos mais jovem do que realmente é (às vezes pelo simples fato de estar usando tênis de corrida). A mulher brasileira classe média vai ao salão fazer as unhas, ou chama a manicure em casa. E as manicures são obviamente as novas empregadas domésticas.

O brasileiro classe média pedindo pão no supermercado: “Me dá cinco. Bem clarinhos”. O brasileiro classe média flagrado enquanto conduzia em alta velocidade: “Essa indústria da multa, vou te contar”. O brasileiro classe média atendendo ao celular no meio do filme: “Alô? Tô no cinema! Me liga depois!” Senhoras e senhores, é muita jequice”.

Agora, sou eu quem acrescenta: o brasileiro classe média aldeão faz questão, em todos os finais de tardes, de emborrachar-se (com champanha nacional), no “deck” da loja de decoração, n companhia da tchurminha pinguça, afirmando ser chiquetésimo répiau.

Uau!

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