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É prá casar ou é prá quê?

– É pra quê!

O último que assim respondeu foi Anatolievich Tchekov, ainda no tempo em que a Rússia era União Soviética e, naquele momento, viu-se na contingência de sair em louca disparada para não ser atingido por uma bala de um AK-47 (sigla da denominação russa Avtomat Kalashnikova odraztzia 1947 goda – Arma Automática de Kalashnikov modelo de 1947), disparada por seu ex-futuro sogro. Anatolievich, desde então, nunca mais parou de correr, tanto assim é que foi visto no último sábado de outubro, na pista atlética da ESEF de Porto Alegre, na XX edição dos Jogos do Mundial Master, prova para até 95 anos de idade.

Desde os meados do Século XX, sobretudo após a II Grande Guerra Mundial, as leis consuetudinárias que regiam as relações entre sogros e eventuais pretendentes à mão de suas filhas, e das próprias relações namorados/namoradas revogaram-se em definitivo. As jovens mulheres passaram a ocupar seu espaço no mercado de trabalho dando os primeiros sinais de que não mais se submeteriam – ao menos sem contenda – às até então pétreas regras patriarcais de seus “senhores” maridos.

Os bancos das Universidades e os postos de trabalho, de competência até então exclusivamente masculinos, passaram a ser reivindicados pelos movimentos feministas – com Betty Friedan empunhando a bandeira –, simbolicamente marcados com a queima de sutiãs em via pública. A mulher abdicava, naquele momento, das funções de piloto de fogão e de outras jocosas designações advindas de jurássicos machistas. Os movimentos de liberação feminina ganharam definitivamente forma, tamanho e, acima de tudo, voz!

Dos anos 60 até os dias de hoje foram significativas as mudanças nas relações homem/mulher, sobretudo ante a conquista da independência econômico-financeira pelas mulheres alicerçadas no mercado de trabalho.

A outra face da moeda mostrou, via de consequência, a autossuficiência nas decisões dessa nova mulher. O divórcio, sobretudo, e a disputa da pensão alimentícia a ser prestada pelo ex-marido perderam o poder amedrontador e decorrente subserviência feminina. A “produção independente” de filhos, sem que haja sequer a relação conjugal ou estável transformou-se em natural alternativa àquelas não tolerantes à convivência diuturna com um companheiro. Delineou-se, assim um dos tantos perfis da Nova Família.

Por estes e por tantos outros fundamentos transformaram-se os comportamentos entre as partes diretamente envolvidas na relação. Esta adquiriu novo desenho: mais despojado, arejado, sem intimidação, sem ameaças, sem coerções, sem “botar o outro contra a parede”, livre de admoestações como  – “afinal, é prá casar ou prá quê?; – vou ficar esperando, até quando?;  – vou dar-te um prazo definitivo, senão…”.

Posturas como o constrangimento, a imposição, a opressão ficaram nos escaninhos do Século XX. Se não o idealizado, o grande e exclusivo amor, seguramente uma esbraseante paixão.

O que, sem dúvida, é bem mais vivificante!

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