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E os nossos, como ficam?

Mesmo no período mais cruel e totalitário do Regime de Exceção – e isso foi durante a gestão do presidente Emílio Garrastazu Médici,  de triste lembrança  –, todo e qualquer cidadão que apresentasse o malfadado “atestado de antecedentes políticos e sociais”, mais conhecido como “atestado ideológico”, que era fornecido pelo Departamento de Ordem Política e Social – DOPS –, com o carimbo      “nada consta”, isto é, para quem não tinha ficha no órgão, poderia, a qualquer momento, obter seu passaporte e visto de permanência para viajar ao exterior, em quaisquer das condições: como turista, para estudos ou para trabalhar em empresas  estabelecidas com sede,  filial ou agência em países estrangeiros. A própria ditadura criou o bordão: “Brasil, ame-o ou deixe-o”. Millôr Fernandes, com sua genialidade, não deixou por menos: “O último a sair apaga a luz do aeroporto”.

Até este momento mantivera-me em silêncio quanto ao episódio dos ganeses.

O governo federal, através do Departamento de Estrangeiros da Secretaria Nacional de Justiça e do Comitê Nacional para os Refugiados (Conare), determinou a organização de mutirão para protocolar o pedido de refúgio dos africanos e expedir carteiras de trabalho para que possam obter emprego.

Destarte, pelo que prevê o ambicioso e eleitoreiro governo federal, em duas semanas os ganeses receberão o referido documento e poderão – atente, meu generoso leitor – “poderão buscar” emprego no Brasil.

O que me causa estranheza é o reconhecimento dos ganeses como “refugiados”. Acaso refugiado é aquele que obtém um passaporte, adquire passagem aérea, passa incólume pela polícia alfandegária (pressuponha que mesmo em Gana deva haver) e, em alegre e saltitante bando rumem ao Brasil para “assistir” aos jogos da Copa do Mundo?
Quer me parecer, salvo melhor juízo, dourar a pílula, preciosismo.

Quem são os aludidos “refugiados”? Possuem família? Deixaram mulher, companheira? Abandonaram à sorte filhos e parentes? Se, de fato, existe perseguição, não mediram as consequências de eventual represália àqueles familiares? Então, de que índole são portadores os infelizes “refugiados”? Que habilitação trazem para as comunidades – como Caxias do Sul, em que é massivo o índice de demissões – ou em qualquer outra onde o mercado de trabalho se mostra escasso?

Antes que me crucifiquem soba pecha de preconceituoso, não há de tardar noticiários com a prisão de “ex-refugiado” ganês por assalto à mão armada. Torço com todas as forças de meu ser para que essa tragédia não se materialize.

O ano é eleitoral. O governo necessita mostrar a face “humanitária” para esconder nos escaninhos da hipocrisia a outra, a pegajosa, a mentirosa e a demagoga. As fajutas comissões e a “deputadinha federal” defensoras dos “direitos humanos” anseiam angariar estima, voto e prestígio com tão benemérita e generosa “adoção”.
E os nossos brasileirinhos, com famílias formadas, filhos em idade escolar, dívidas para pagar e a demissão batendo à porta. Sim, e estes, como ficam?

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