Um labirinto de horrores que ultrapassa a imaginação
A equivocada invasão do Iraque pelos Estados Unidos durante o governo Bush, e, pior ainda, sua irresponsável retirada durante o atual governo Obama, deixou para trás um país que sofre uma profunda crise política e constitucional. Soma-se a isto a guerra civil na vizinha Síria e está sedimentado o caminho para o surgimento de grupos jihadistasultra-radicas, que fazem a Al Quaeda parecer um encontro de coroinhas.
É o caso do Estado islâmico, ou Isis (IslamicStateofIrakandSiria), um híbrido de nazismo e Khmer Vermelho, que conta com mais de cinquenta mil combatentes recrutados pelo mundo todo, fortemente armados e comandados por um genocida lunático que se autonomeia “califa” Al-Baghdadi.
Seu esporte favorito é decapitar, crucificar e promover execuções em massa de cristãos e outras minorias religiosas que se negam converter ao islamismo,como por exemplo, os yazidis, povo que cultiva um peculiar sincretismo religioso e que até então vivia em relativo sossego no norte do Iraque. (Há vídeos “educacionais” do Estado Islâmico em que cristãos e yazidis se submetem e se convertem ao islamismo. Mesmo assim, são executados).
Alguns refugiados que conseguiram sobreviver contam relatos aterradores, como ahistória de SamoIlyas Ali, de 46 anos e 9 filhos: Ele e seus vizinhos foram cercados à noite subitamente pelos militantes do Isis com metralhadoras. Eles tinham barbas longas. Alguns usavam máscaras e inscrições em árabe nas laterais da cabeça.
De repente, os homens começaram a cavar valas, que logo se tornariam túmulos coletivos.
”Não entendemos. Aí começaram a colocar pessoas nos buracos, e elas estavam vivas”, relatou Ali.”Após algum tempo ouvimos disparos. Não esqueço a cena. Mulheres, crianças, chorando e pedindo ajuda. Tivemos que correr para salvar a vida, não havia nada a fazer por eles.”
Outro relato impressionante é do médico catalão Dr. Juan LuisSotomayor. Aos 46 anos já participou em missões humanitárias em mais de dez locais de conflito e pensava ter visto tudo. Mas diz que esta guerra o afetou como nenhuma outra.
”Denuncio abertamente que está sendo cometido um genocídio medieval contra a população civil no Iraque”.
O médico descreve um cenário de “matanças horríveis” e fala em decapitações públicas, fuzilamentos em massa, crucificação de “infiéis” e em mulheres e crianças que são enterradas vivas. Algumas testemunhas contaram a Sotomayor que em Mossul, os postes elétricos estão cheios de cabeças cortadas. “É o terror pelo terror”.
Em uma recente ação de proporções hollywwodianas, o grupo terrorista divulgou pela Internet um vídeo onde o jornalista americano James Foley é brutalmente decapitado. O carrasco utilizou uma faca de cozinha para executar a degola. Pior ainda, suspeita-se que o assassino seja de origem britânica, o que torna tudo ainda mais perturbador.
Calcula-se que cerca de três mil combatentes do Isis tenham origem ocidental, muitos saíram do Reino Unido para se juntarem às forças do Estado Islâmico. A pergunta é: porquê? O que faz estes jovens se transformarem em assassinos cruéis? Não há o que justifique.
Somos testemunhas de um êxodo de proporções bíblicas. São milhares de exilados que deixaram suas casas com nada mais do que as roupas do corpo, sem água ou comida, vagando pelos desertos da Síria sob uma temperatura de mais de 50ºC. É sem dúvida umas das mais graves catástrofes humanitárias dos nossos tempos e a comunidade internacional demorou muito a reagir.
O governo brasileiro, sempre muito atento aos direitos humanos, ao menos quando setrata de supostas violações contra os “cumpanheiros” mundo afora, cala-se de maneira vergonhosa frente ao extermínio de milhares de pessoas. Afinal, para as mentes conturbadas dos nossos “esquerdistas”, qualquer coisa que seja antiamericana merece apoio, mesmo que isso implique em enterrar mulheres e crianças vivas e degolarem repórteres.
A grande imprensa, que há pouco relatava com jubilação a marcha, sem retorno, rumo àdemocracia e à liberdade do povo árabe, hoje se assombra com a barbárie. A Primavera Árabe terminou no mais absoluto caos e expõe a imensa ignorância do ocidente frente ao complexo emaranhado racial,político e religioso daquela região. Poucos foram os jornalistas que tiveram a sensibilidade de antever o fracasso do movimento e, os que o fizeram, foram imediatamente demonizados por seus pares.
Por mais paradoxal que pareça, as ditaduras que foram derrubadas naquela regiãogarantiam um tênue equilíbrio entre as diversas etnias e religiões existentes. Não estou aqui defendendo o método ditatorial de governar, mesmo porque, para se manterem no poder também cometeram, e ainda cometem, crimes atrozes contra a humanidade.
Peguemos, por exemplo, a “bola da vez” entre os ditadores: Bashar al- Assad da Síria. Os EUA e a União Europeia dão apoio aos rebeldes que lutam contra o ditador sírio. A guerra civil já matou quase duzentas mil pessoas e seria o preço a pagar para deporem o sanguinário déspota e, em seu lugar, erguerem um governo democrático. Porém, o que se vislumbra é muito diferente. Uma vez destituído Assad, o caminho estaria livre para o Isis construir seu califado e, se assim for, Bashar al-Assad comparado a Al-Baghdadi (líder califa do Isis) pareceria mais um monge tibetano do que um ditador assassino.
Como se costuma dizer: é uma sinuca de bico. O que fazer? Sei lá! Alguém sabe?