Colunistas

O homem integral

“A liderança, além de ser uma grande
força criativa, pode ser diabólica…”.
Jan Smuts*

“— Há um bocado de alarme e de desânimo por aí. Mais do que o comum. Há um pouco mais do que o normal. Um desânimo ativo em vez de passivo, eu diria. Há muito tempo, e eu venho percebendo do lado de fora, e você, do lado de dentro, sentimos que está tudo meio confuso. Uma confusão muito grande. Mas agora chegamos a um ponto onde sentimos que algo precisa ser feito para sanar a confusão. Há nela um elemento de perigo. Há algo no ar… algo que está sendo fomentado. Recrutaram um exército a seu serviço e o perigo é que esse exército irá a qualquer lugar, fará qualquer coisa, infelizmente acreditará em tudo, desde que lhes prometam uma certa dose de deposições de governos, de estragos e de areia nas engrenagens, que eles pensem que a causa deve ser boa e que o mundo será diferente. Não têm imaginação, é este o problema… são apenas destrutivos. Mas uma vez que as pessoas aprendem a amar a destruição por si mesma, então a liderança maligna tem a sua oportunidade. Não se pode confiar em ninguém. Não se pode contar para qualquer pessoa. Não passe adiante para esses idiotas do Governo ou que têm conexões com o Governo ou que esperam participar do Governo quando esses que estão lá por cima se forem. Os políticos não têm tempo de olhar para o mundo em que vivem. Olham apenas para a região em que vivem e a veem como uma vasta plataforma eleitoral. Eles se contentam com isso por enquanto. Fazem coisas que acreditam que tornarão a vida melhor mas se surpreendem quando essas coisas não agradam, porque não eram as coisas que o povo queria que fizessem. E não se pode deixar de chegar à conclusão de que os políticos pensam que têm o divino poder de contar mentiras, desde que seja por uma boa causa. Não faz tanto tempo assim que um ex-governante fez o seu famoso comentário: — “Se eu tivesse dito a verdade, teria perdido a eleição”. Os Ministros também sentem isso. De vez em quando nós temos um grande homem, graças a Deus. Mas é raro. Muito raro!”.

As sábias palavras acima são da personagem Lady Matilda Cleckheaton, num diálogo com seu sobrinho-neto, Sir Stafford Nye, num dos romances de autoria da Dama do Crime, Agatha Christie, escrito há exatos 44 anos.

O discurso da velha senhora, no entanto, perfeitamente se adequa a toda a Nação brasileira, a cada cidadão seu, independente da ideologia político-partidária deste, sobretudo nestes tempos que antecedem a mais acirrada, e eivada de baixaria, campanha presidencial, resultante do fidelíssimo retrato do aterrador quadro dos descaminhos da corrompida política nacional.

O ideal, neste interregno até o dia 5 de outubro, seria o de profunda reflexão de todos os que comparecerão às urnas, não apenas dos que teimosa ou ingenuamente convivem, não com o argueiro, mas a trave a lhes cegar a visão e com a lobotomia que lhes anula qualquer resquício de inteligência própria.

A ninguém é dado o direito de ser eterna marionete manipulada pela mentira. Se Pinocchio ainda vive e fala, por que marionetes não podem se transformar em seres humanos integrais?

* Jan Christiaan Smuts GCTE (Malmesbury, 24 de Maio de 1870 — Irene, 11 de Setembro de 1950) foi um proeminente estadista e soldado da África do Sul. Foi primeiro-ministro da África do Sul de 1919 a 1924 e de 1939 a 1948. Era também Marechal, um advogado e intelectual
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