A insustentável leveza do não-escrever
Se minha resposta se resumisse efetiva e concretamente naquilo que faço no tempo entre a escrita de um texto e outro seria uma resposta nada inteligente: – Leio, ouço música, degusto, esporadicamente, um cabernet, assisto a um filme ou outro nos telecines, sofro pelo meu time de futebol, faço minha fezinha na Lotofácil (jamais passei dos 10 acertos), caminho – somente em dia de sol e de pouco vento – no calçadão da Beira-Mar, vou ao supermercado, à padaria, ao banco e pago a conta da luz, da água, do condomínio, do IPTU, do IPVA, dos custos do cheque especial, do cartão de crédito, do rombo do mensalão e, agora, a conta do maior roubo já registrado na História de todas as Nações, comparado, em suas dimensões, ao Buraco Negro do Universo: o violento estupro sofrido pela Petrobrás pela cúpula do PT, partidos aliados, membros dos mais altos escalões do Governo Federal e seus dois representantes máximos nos últimos doze anos, as mais poderosas empreiteiras, tudo acobertado pela mais safada e escancarada impunidade. Como autênticos palhaços tupis-guaranis a conta nos será, compulsoriamente, apresentada para que a paguemos.
Entendi, no entanto, a essência da pergunta da estudante. Assim, minha resposta, então, deveria ser Nada!, o que certamente haveria de desencadear um desencanto à jovem plateia. Optei pela simplicidade: leio. Leio muito para ter elementos para uma nova crônica, um diferente artigo.
Nesse interregno persiste, ao menos para mim, a insustentável leveza do não escrever. Sim, escrever o quê, se havia prometido a mim mesmo – por quanto tempo sem quebrar esse juramento, não sei! –de não escrever mais textos formadores de opinião político-partidária?
Pensando na interessante pergunta da garota e nesse desconforto da inércia do ato de escrever, decidi fazer uma experimentação: o exercício da escrita em suas nuanças de estilo, correção e dos misteriosos escaninhos que ela pode suscitar. Buscar, na excelência do texto, o enxugamento, o corte das “gorduras”, dos clichês, da literatice, a ausência de “ecos” (coração/emoção/decepção; patética/estética/morfética).
Ousadia, autossufiência? Quem sabe? Somente existirá esta certeza se posto em prática e sob o julgamento dos meus poucos e generosos leitores que a isto se propuserem: ler e opinar, a partir de 24 de novembro, nas segundas, quartas e sextas-feiras, aqui, neste mesmo espaço.
Será uma série sob o título de Confiteor.
Posso contar com vocês?