No RS, número de pobres no campo é maior do que nas cidades
Do total de 306.651 gaúchos nesta condição de carência, 13,7% não são alfabetizadas. Em termos étnicos, 66,5% são brancos; 19,9%, pardos; 9,9%, negros; enquanto 3% são indígenas.
Conforme os dados, 34,8% dessa parcela de gaúchos habita o meio rural; enquanto que 65,2 %, a zona urbana. “Proporcionalmente, no entanto, há mais pessoas extremamente pobres no campo do que na cidade”, ressaltou o economista Marcos Wink, da Fundação de Economia e Estatística (FEE). Ele e a colega Clítia Helena Backx apresentaram os números do IBGE com um diagnóstico sobre a pobreza no RS. Os dados estão sendo trabalhados pelo Ministério do Desenvolvimento Social e apontam as regiões mais carentes do Estado e do País.
Conceitos de pobreza
De acordo com Clítia Martins, “a pobreza é um fenômeno complexo e multidimensional, que envolve diversos fatores, como renda, habitação, saneamento, aspectos culturais e geográficos. Para quantificá-la, é necessário utilizar alguma dessas referências. Estabelecemos como critério, portanto, a insuficiência de renda”, afirmou a pesquisadora, explicando a metodologia do trabalho que resultou nos dados apresentados.
Define-se como “pobreza extrema ou absoluta” a situação de pessoas que não têm as mínimas condições para uma vida digna, como o acesso à água potável, moradia em condições salubres e alimentos saudáveis; enquanto que a pobreza relativa utiliza como referência os padrões de consumo de uma determinada sociedade.
A linha nacional de pobreza extrema compreende as pessoas que recebem individualmente até R$ 70 por mês. Conforme os dados, o número de brasileiros nessa situação representa 8,53% da população nacional. O Estado que apresenta o quadro mais grave é o Maranhão, com 25,72% de sua população em pobreza absoluta, seguido pelo Piauí, com 21,35%.
Necessidade tem endereço
Os três municípios gaúchos com os índices de pobreza absoluta mais elevados são Redentora, com 29,7% de sua população nessa situação; Lajeado do Bugre, com 29,1%; e Benjamin Constant do Sul, com 19,9%. Entre os dez municípios com os índices mais graves, a maioria se localiza no norte do Estado, mais especificamente na Mesorregião Noroeste. Além disso, todos são essencialmente agropecuários.
“É importante lembrar que rankings que trabalham com outros referenciais, como educação, saneamento e saúde, apontam os mesmos municípios como os mais necessitado”, observou o economista da FEE.
Mobilização para mudar esta realidade
O secretário Executivo do Conselhão, Marcelo Danéris, elogiou o trabalho dos técnicos da FEE. “Com base nesses dados estatísticos, percebemos que há mais de 300 mil pessoas precisando de nós, aqui do Conselho, no sentido de produzir políticas públicas que possam alterar essa realidade”, salientou. Para o conselheiro Jaques Alfonsin, proponente da atividade, “a exposição evidencia um verdadeiro contingente de extremamente pobres no nosso Estado que precisam de nossa atenção”.
O presidente da Emater, Lino de David, parabenizou o Conselhão pela iniciativa de aprofundar os debates desse assunto. “A pobreza, infelizmente, está associada ao modelo de produção rural excludente que ainda temos em nosso estado. Avaliar a degradação sociocultural tanto quanto a econômica é fundamental para se compreender a pobreza e, assim, tentar enfrentá-la”, avaliou.
O secretário-adjunto estadual de Desenvolvimento Rural, Pesca e Cooperativismo, Ronaldo de Oliveira, também exaltou a importância da atividade. “Com esses dados, podemos visualizar melhor como efetuar as políticas públicas estruturantes, voltadas à extensão da educação no meio rural, o acesso a terra e ao crédito”, considerou.
Esta foi a primeira atividade do ciclo “Desenvolvimento rural: o campo que queremos”, que está sendo organizado pela Câmara Temática Economias do Campo, no Conselhão.